Não que uma poltrona substituísse os braços cheirosos e macios de uma mulher, mas aquela até que cumpria bem o seu papel, abraçando e acolhendo de bom grado o homem amargurado, que pelas tardes se sentava ali fingindo ler o jornal enquanto só pensava nublado.
Nesse clima eterno de inverno passaram-se anos e a barba do homem já começava a apresentar alguns poucos fios brancos, ainda acanhados em sua face. A poltrona continuava lá, imponente, encarando o homem e deixava-o constrangido, pois atestava todas as suas dores.
Foi numa tarde como qualquer outra que o homem amargo decidiu não fingir ler o jornal; nem sequer o levou para a sala, simplesmente sentou-se na poltrona e olhou para frente. Espantou-se a princípio com o que viu: Uma janela. Quase tinha esquecido da velha janela!
Num desses impulsos típicos de criança, levantou-se e olhou através. Sem hesitar, abriu-a. Viu a rua, as vidas e seus donos passando pela calçada, crianças que brincavam com o verão. Então olhou para a casa da frente e seu lindo jardim; Olhares se cruzaram e então ouviu quase como uma profecia:
-Bom dia! – Numa saudação elegante, com um sorriso daqueles que contam tudo o que se precisa saber.
O sol se fez presente nos dois pares de olhos. Nunca mais usou a poltrona.
29/12/2009
27/12/2009
Baile de Máscaras
As máscaras dançam ao som de tal música, música que é tocada pelo destino, ou acaso, se preferir. Todos estão felizes e as máscaras se completam. Acabada a música ou enfezados os participantes, as máscaras caem ocas e mortas no chão, frias. Então há uma surpresa: Outras máscaras já estão por baixo e assumem a dança.
Recomeça o baile e já não se sabe mais quem és, quem conheces, com quem dançastes.
Sim, a vida é um eterno baile de máscaras; eterno! Suas máscaras já estão prontas? Cuidado, a música vai começar.
Recomeça o baile e já não se sabe mais quem és, quem conheces, com quem dançastes.
Sim, a vida é um eterno baile de máscaras; eterno! Suas máscaras já estão prontas? Cuidado, a música vai começar.
23/12/2009
Mulher Dormindo Nua
No quarto de janela onde é sempre outono, os cabelos pretos estão esparramados na cama macia, cachos olorosos que dançam ao som da respiração.
O rosto fresco, de traços cortantes mesmo para uma vista insensível e calejada, faz com que se possa passar uma tarde inteira vendo-a dormir.
Passa os pés e pernas sob o lençol, que chia e treme em contato com a pele, bem como as folhas que farfalham lá fora.
E então esboça um sorriso quase invisível, misto de sono e fantasia, ameaça abrir os olhos e desiste com uma preguiça gostosa de se ver.
Agora se sabe por que nessa janela é sempre outono; não teve coragem de ir embora.
O rosto fresco, de traços cortantes mesmo para uma vista insensível e calejada, faz com que se possa passar uma tarde inteira vendo-a dormir.
Passa os pés e pernas sob o lençol, que chia e treme em contato com a pele, bem como as folhas que farfalham lá fora.
E então esboça um sorriso quase invisível, misto de sono e fantasia, ameaça abrir os olhos e desiste com uma preguiça gostosa de se ver.
Agora se sabe por que nessa janela é sempre outono; não teve coragem de ir embora.
Dos Sonhos Dormidos
Sonhos, na sua composição mais básica, são feitos de medos e de desejos.
Pode-se deixar de enxergar ou ouvir, mas de sonhar, nunca.
Uma hora teus olhos hão de cair e a mente consciente baixará guarda, então há o espetáculo de toda noite: Seu subsconconsciente dança sensualmente com toda a sua verdadeira e intocável essência, aquela que você ainda nem conhece.
Eis que dessa dança atemporal sonhos vão florir, sem regras, preceitos da sociedade ou etiqueta.
Surgem somente como as coisas são (ou deveriam ser), perfeitas para seu próprio ser.
Sem dimensões ou qualquer coisa abstrata e insignificante que use números.
Podem ser sim até sombrios e luxuriosos às vezes, mas serão sempre você, a parte que esconde.
Há quem diga que sonhos são um ralo da mente
Mas ralos são depressivos demais e cheiram mal
Portanto eu diria que sonhos são uma válvula.
Pode-se deixar de enxergar ou ouvir, mas de sonhar, nunca.
Uma hora teus olhos hão de cair e a mente consciente baixará guarda, então há o espetáculo de toda noite: Seu subsconconsciente dança sensualmente com toda a sua verdadeira e intocável essência, aquela que você ainda nem conhece.
Eis que dessa dança atemporal sonhos vão florir, sem regras, preceitos da sociedade ou etiqueta.
Surgem somente como as coisas são (ou deveriam ser), perfeitas para seu próprio ser.
Sem dimensões ou qualquer coisa abstrata e insignificante que use números.
Podem ser sim até sombrios e luxuriosos às vezes, mas serão sempre você, a parte que esconde.
Há quem diga que sonhos são um ralo da mente
Mas ralos são depressivos demais e cheiram mal
Portanto eu diria que sonhos são uma válvula.
14/12/2009
Aos Brasis
Viva o Brasil das calçadas encardidas e encantadoras, o Brasil dos contadores de história em botecos de cada esquina, dos cabeleireiros que falam de samba e política.
Viva o Brasil das crianças que jogam bola nas ruas, das moças que cozinham feijão cheiroso pro almoço, da vida severina, dos vendedores de tapioca e yakissoba.
Viva o Brasil do imigrante, do migrante e da malícia. Viva o jeitinho brasileiro e todas as fitas isolantes, gambiarras e trambiques. Viva o Brasil malandro, o Brasil moleque.
Viva o Brasil da corrupção sem dono, explicita, passiva e cordial, o Brasil dos homens com cueca milionária, dos covardes, o Brasil de todos os santos, todos os povos, todos os ladrões e todos os tolos.
E por fim, viva este e os muitos outros Brasis que batem no peito de cada um que aqui vive ou viveu um dia.
Viva o Brasil das crianças que jogam bola nas ruas, das moças que cozinham feijão cheiroso pro almoço, da vida severina, dos vendedores de tapioca e yakissoba.
Viva o Brasil do imigrante, do migrante e da malícia. Viva o jeitinho brasileiro e todas as fitas isolantes, gambiarras e trambiques. Viva o Brasil malandro, o Brasil moleque.
Viva o Brasil da corrupção sem dono, explicita, passiva e cordial, o Brasil dos homens com cueca milionária, dos covardes, o Brasil de todos os santos, todos os povos, todos os ladrões e todos os tolos.
E por fim, viva este e os muitos outros Brasis que batem no peito de cada um que aqui vive ou viveu um dia.
07/12/2009
Compartilhar Uma Vida
Compartilhar uma vida! É isso que hoje se esqueceu. Aliás, não se sabe mais compartilhar quase nada, quanto mais uma vida. Compartilhar uma vida pode ser assim, cheio desses rabiscos de ingenuidade, momentos tolos de criança e borrões impetuosos de ardência, com todo desejo rubro típico dos amantes; Sempre ouvir cada palavra do outro como se fosse a coisa mais fascinante, mas isso de modo natural, com aquele brilho nos olhos, as mãos inquietas e o sorriso querendo brotar!
Poder falar mil horrores e depois rir da própria ignorância, ouvir mais outros dois mil horrores e desfaze-los todos com um beijinho sincero na ponta do nariz. Isso! Isso que é compartilhar uma vida: Não ter controle algum sobre a vida do outro, mas saber que ele está ali interagindo e respondendo à sua vida. Não tomar rédea nenhuma, jamais, mas mostrar que a estrada é longa e que ocasionalmente você está ali, inabalável, mostrando que compensa, com a força que mais bem representa tudo isso: O amor.
Poder falar mil horrores e depois rir da própria ignorância, ouvir mais outros dois mil horrores e desfaze-los todos com um beijinho sincero na ponta do nariz. Isso! Isso que é compartilhar uma vida: Não ter controle algum sobre a vida do outro, mas saber que ele está ali interagindo e respondendo à sua vida. Não tomar rédea nenhuma, jamais, mas mostrar que a estrada é longa e que ocasionalmente você está ali, inabalável, mostrando que compensa, com a força que mais bem representa tudo isso: O amor.
À Minha Desconhecida
Eu quero passar o meu amor inteiro no teu, embora ainda não a conheça. Sei que você está por aí, escondida de mim, num típico jogo de criança que sempre acaba em risadas irresistíveis em tardes preguiçosas. Depois dos cafunés, das promessas eternas (e passageiras), dos milhares de minutos tentando te convencer de alguma bobagem, te dar cada detalhe do meu dia como um presente único e quando você tirar meus cabelos dos meus olhos, poder ver que você continua recém saída do ventre das minhas paixões, feito uma aragem de verão.
Te encontro (dia desses)
Te encontro (dia desses)
27/11/2009
O que é importante?
Às vezes parece que eu vou abrir os olhos e acordar aquele menino de sete anos, de novo, e toda essa loucura de mundo, essa agitação sem sentido, esses valores e regras que eu descobri aos poucos e com esforço, vão ser só mais um sonho sem sentido, daqueles que a gente esquece quando estamos fazendo algo extremamente importante, como brincar no quintal e ouvir histórias de avô.
18/11/2009
Maçãs
"Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar..."
Raul Seixas - A Maçã
Não é mágoa, menina. Não. Nem ressentimento. Explico:
Quando se morde uma maçã que parece bem suculenta e sente-se na própria boca um inesperado suco de podridão, que vem do interior da fruta, é inegável e impossível não fazer uma cara de repulsa natural. E depois do nojo vem a exclamação: Num reflexo tão instintivo quanto a repulsa, joga-se a maçã ao longe. E assim foi.
Mas não culpo a maçã! Ai de mim! Não se pode culpar a maçã; O mundo é que a apodreceu por dentro, e por fora se criou a casca do orgulho, de uma beleza mascarada e volúvel, para enganar as bocas afiadas que a mordem; para protegê-la dos sentimentos reais, que tanto machucam! Ah! Maçã orgulhosa trancada no próprio lodo!
Você foi essa maçã. Maçãs foram feitas para encenar histórias de contos de fada! Maçãs mágicas que salvam vidas, outras envenenadas e ainda assim parecem todas iguais. Mas veja bem: só encenação, cuidado. O homem bem sabe o que acontece quando se morde uma maçã irresistível! Ah, Adão, tolo você de ter mordido antes de saber o que vinha dentro! Tolo!
Mas não culpo a maçã! Ai de mim! Não se pode culpar a maçã; O mundo é que a apodreceu por dentro, e por fora se criou a casca do orgulho, de uma beleza mascarada e volúvel, para enganar as bocas afiadas que a mordem; para protegê-la dos sentimentos reais, que tanto machucam! Ah! Maçã orgulhosa trancada no próprio lodo!
Você foi essa maçã. Maçãs foram feitas para encenar histórias de contos de fada! Maçãs mágicas que salvam vidas, outras envenenadas e ainda assim parecem todas iguais. Mas veja bem: só encenação, cuidado. O homem bem sabe o que acontece quando se morde uma maçã irresistível! Ah, Adão, tolo você de ter mordido antes de saber o que vinha dentro! Tolo!
08/11/2009
Milongas do Velho Preto
O preto curvado sai caminhando no chão de terra batida e senta no banquinho devagar, pois as pernas já são fracas. Suas rugas e seu cachimbo estão recheados de histórias.Com a mão trêmula alisa a barba branca, enquanto os mais jovens sentam-se no chão, em silêncio. Seu olhar é ancestral e penoso, mas não deixa de ser alegre. Todos esperam ansiosos.
Com as primeiras tragadas de cachimbo as velhas histórias começam a flutuar no ar, penetram os corações com as palavras humildes. Até os filhos do senhoril – filhos brancos, criados ao molde europeu, cheios de preconceitos – estão debruçados na janela do cativeiro, curiosos, enfeitiçados pelo conto.
Agora já não há cor de pele, nem diferenças, nem talheres de prata, nem casarão, nem etiqueta, nem nada. Ali só se via humanos, sentindo como humanos e vivendo coisas reais através das palavras gastas e arrastadas do preto-velho.
O velho foi deitar-se na cama de palha, satisfeito; Naquele dia alguma coisa mudou. Saíram todos dali meio abalados, todos quietos com os próprios pensamentos; Saíram dali de olhos baixos, com vergonha.
Estavam aprendendo a ser verdadeiramente humanos.
Com as primeiras tragadas de cachimbo as velhas histórias começam a flutuar no ar, penetram os corações com as palavras humildes. Até os filhos do senhoril – filhos brancos, criados ao molde europeu, cheios de preconceitos – estão debruçados na janela do cativeiro, curiosos, enfeitiçados pelo conto.
Agora já não há cor de pele, nem diferenças, nem talheres de prata, nem casarão, nem etiqueta, nem nada. Ali só se via humanos, sentindo como humanos e vivendo coisas reais através das palavras gastas e arrastadas do preto-velho.
O velho foi deitar-se na cama de palha, satisfeito; Naquele dia alguma coisa mudou. Saíram todos dali meio abalados, todos quietos com os próprios pensamentos; Saíram dali de olhos baixos, com vergonha.
Estavam aprendendo a ser verdadeiramente humanos.
22/10/2009
Do Mundo e dos Pesares
Não se pode chorar todas as lágrimas desse mundo tão salgado.
Invejei Atlas e quis sentir todo o peso do mundo nos meus ombros, como se isso fosse torná-lo mais leve.
Quantas vezes eu já não tentei..? E quantas mais eu já não senti?
Não é o mundo que pesa e sim as pessoas.
Mas o mundo é grande, como diria o poeta.
As pessoas não. Elas são pequenas e pesadas.
O mundo está coberto de penas tão pesadas quanto lágrimas verdadeiras.
Os pesares do mundo não cabem no meu colo, sou tão pequeno, sou tão pessoa.
Invejei Atlas e quis sentir todo o peso do mundo nos meus ombros, como se isso fosse torná-lo mais leve.
Quantas vezes eu já não tentei..? E quantas mais eu já não senti?
Não é o mundo que pesa e sim as pessoas.
Mas o mundo é grande, como diria o poeta.
As pessoas não. Elas são pequenas e pesadas.
O mundo está coberto de penas tão pesadas quanto lágrimas verdadeiras.
Os pesares do mundo não cabem no meu colo, sou tão pequeno, sou tão pessoa.
11/10/2009
Batem à Porta de Minha Vida
Sinto baterem à porta de minha vida. São pancadas fortes e certeiras que põe todos os cômodos da minha mente a tremer. Encosto na porta trancada e grito:
-Quem aí vem e o que me traz? – Minha voz rouca e cansada, pálida como a velha porta de dobradiças enferrujadas.
-Não saberás só espiando pela fresta, rapaz! – Uma voz doce e compassada, mas está misturada com o vento forte do mundo externo a mim; o mundo bárbaro.
É inverno na minha vida, quase sempre inverno. A minha vida tem um lago, quase sempre parado. O lago está congelado, mas há muita vida nas suas profundezas, pena que ninguém as pode notar. A porta torna a sacudir:
-Aqui fora é frio, tenho fome e teu lago é congelado. Deixa-me entrar. – Sopra outra vez a voz, agora desvanecendo, embalada em segredo, sendo diluída no frio das minhas incertezas.
-Tenho medo do soprar de suas palavras, me parecem tão nebulosas! Além do mais, estou confortável aqui, sozinho. – Digo eu, tiritando de covardia.
-Estou morrendo – A voz agora tão apagada quanto um bater de folhas no vendaval.
A chave está perdida em algum lugar, no fundo de algum baú ou gaveta. Tenho muitas caixas onde guardo lembranças e gavetas onde guardo memórias. Sei que algumas nunca mais vou abrir. Achei a velha e pesada chave, já quase esquecida.
Estou girando a chave devagar. A mão não treme mais e sinto que tudo pode mudar:
-Quem sabe não é o verão que chega à minha porta? Quem sabe o lago não se descongela? – Penso quase sorrindo, não fosse a tamanha ansiedade e os olhos atentos à fresta que começa se abrir. A porta resmunga ao ser aberta lentamente.
Os meus olhos estão acesos de esperanças. Olho e não vejo nada num primeiro momento. Penso em me trancar novamente, no perigo que corro. Eis que uma criatura de formas puras como o gelo se forma à minha frente, e num só sopro, num só hálito, me congela para sempre.
-Quem aí vem e o que me traz? – Minha voz rouca e cansada, pálida como a velha porta de dobradiças enferrujadas.
-Não saberás só espiando pela fresta, rapaz! – Uma voz doce e compassada, mas está misturada com o vento forte do mundo externo a mim; o mundo bárbaro.
É inverno na minha vida, quase sempre inverno. A minha vida tem um lago, quase sempre parado. O lago está congelado, mas há muita vida nas suas profundezas, pena que ninguém as pode notar. A porta torna a sacudir:
-Aqui fora é frio, tenho fome e teu lago é congelado. Deixa-me entrar. – Sopra outra vez a voz, agora desvanecendo, embalada em segredo, sendo diluída no frio das minhas incertezas.
-Tenho medo do soprar de suas palavras, me parecem tão nebulosas! Além do mais, estou confortável aqui, sozinho. – Digo eu, tiritando de covardia.
-Estou morrendo – A voz agora tão apagada quanto um bater de folhas no vendaval.
A chave está perdida em algum lugar, no fundo de algum baú ou gaveta. Tenho muitas caixas onde guardo lembranças e gavetas onde guardo memórias. Sei que algumas nunca mais vou abrir. Achei a velha e pesada chave, já quase esquecida.
Estou girando a chave devagar. A mão não treme mais e sinto que tudo pode mudar:
-Quem sabe não é o verão que chega à minha porta? Quem sabe o lago não se descongela? – Penso quase sorrindo, não fosse a tamanha ansiedade e os olhos atentos à fresta que começa se abrir. A porta resmunga ao ser aberta lentamente.
Os meus olhos estão acesos de esperanças. Olho e não vejo nada num primeiro momento. Penso em me trancar novamente, no perigo que corro. Eis que uma criatura de formas puras como o gelo se forma à minha frente, e num só sopro, num só hálito, me congela para sempre.
07/10/2009
Música Para os Olhos
Há uma música que faz muitas lembranças vibrarem diante dos meus olhos, que quase sempre ficam brilhantes e marejados; diria tristonhos se não fosse o leve sorriso, quase invisível.
Os olhos apontados para algum nada vão se alagando com a música e transbordam. Eis que um passado vai se formando aos poucos, percorrendo as trilhas umedecidas e salgadas que rasgam o rosto.
E agora os olhos já não são mais nada. Estão perdidos no torpor confortável da nostalgia e só sabem ver lembranças. Boas ou más? Não conseguem diferenciá-las, apenas olham como crianças curiosas; como andantes que nunca chegam a lugar algum.
Tudo é e tudo foi música.
Os olhos apontados para algum nada vão se alagando com a música e transbordam. Eis que um passado vai se formando aos poucos, percorrendo as trilhas umedecidas e salgadas que rasgam o rosto.
E agora os olhos já não são mais nada. Estão perdidos no torpor confortável da nostalgia e só sabem ver lembranças. Boas ou más? Não conseguem diferenciá-las, apenas olham como crianças curiosas; como andantes que nunca chegam a lugar algum.
Tudo é e tudo foi música.
02/10/2009
Desventurado Companheiro Póstumo
Junto todos os meus morangos mordidos com os meus sonhos quebrados e ilusões desfeitas e mexo tudo com todas as palavras inúteis que aprendi durante a vida e sorrisos arrancados; Então te encontro em alguma rua, por acaso – claro - e me misturo a essa rara receita de vida (será?).
Eu quero viver também e ver e sentir e... Mas eu nem te conheço ainda! O que vai pensar quando me encontrar pela primeira vez? Não sei, não sei. Nunca fui de parâmetros, mas tenho medo de não atender as expectativas que você criou por todos esses anos.
Quando eu era pequeno - nem faz tanto tempo assim - eu nem pensava em você. Digo, até que pensava, mas não tinha essa realidade chocante, iminente... Associava-lhe com os desenhos! Pensava o seguinte: Estou lá, e você me encontra. Numa rua qualquer, avenida, num esbarrão ou pedindo alguma informação.
Jamais pensei ter que correr atrás de você; jamais pensei em correr atrás de nada. Tudo sempre chegou até meus pés sem o menor esforço - e não digo isso como soberba não! É terrível - Agora encontro você tão insolúvel, emblemático e imaculado.
Ah, é você, futuro. Sempre você, não é mesmo? Ah, desventurado companheiro póstumo, preciso mesmo ir ao seu encontro? É rua ou avenida? Vai me encontrar desprevenido, na fila do pão, de chinelos com meia? Ou então nos encontraremos num refinado teatro, no intervalo da peça?
Você é cego, futuro, e eu não enxergo muito bem. Espero poder te encontrar, por aí, seja em taverna ou em tribo, assoviando, feliz, com aquele sorriso de criança; aí sim eu saberei que é você.
Eu quero viver também e ver e sentir e... Mas eu nem te conheço ainda! O que vai pensar quando me encontrar pela primeira vez? Não sei, não sei. Nunca fui de parâmetros, mas tenho medo de não atender as expectativas que você criou por todos esses anos.
Quando eu era pequeno - nem faz tanto tempo assim - eu nem pensava em você. Digo, até que pensava, mas não tinha essa realidade chocante, iminente... Associava-lhe com os desenhos! Pensava o seguinte: Estou lá, e você me encontra. Numa rua qualquer, avenida, num esbarrão ou pedindo alguma informação.
Jamais pensei ter que correr atrás de você; jamais pensei em correr atrás de nada. Tudo sempre chegou até meus pés sem o menor esforço - e não digo isso como soberba não! É terrível - Agora encontro você tão insolúvel, emblemático e imaculado.
Ah, é você, futuro. Sempre você, não é mesmo? Ah, desventurado companheiro póstumo, preciso mesmo ir ao seu encontro? É rua ou avenida? Vai me encontrar desprevenido, na fila do pão, de chinelos com meia? Ou então nos encontraremos num refinado teatro, no intervalo da peça?
Você é cego, futuro, e eu não enxergo muito bem. Espero poder te encontrar, por aí, seja em taverna ou em tribo, assoviando, feliz, com aquele sorriso de criança; aí sim eu saberei que é você.
24/09/2009
Andas Como Se Fosse Dona Do Mundo
Os olhos se faíscam contra os meus - Contra ou a favor, não sei dizer. Só posso ver que são olhos grandes e vivos; talvez somente curiosos e indiscretos; não importa agora, que o tempo está parado. Não pude ver nada além dos olhos, naquele primeiro e único momento de êxtase acidental.
Viro pra trás e vejo os cabelos enrubescidos. Eu diria que tinham a cor de uma ferrugem clara, – ah! que indelicado eu! – mas não, de enferrujados não tinham nada, pois cada cacho e ondulação dançavam; seguiam o ritmo dos murmúrios da multidão ou então orquestravam essa sinfonia de cidade grande.
Vejo-a lá embaixo, longe, indo à plataforma esperar o trem.
Olho como criança abelhuda e mal-educada. Ela anda como se fosse dona do mundo e do tempo! Flutua sob pobres mortais e arrasa cidades inteiras com uma beleza sacro-pecadora. Cada passo, cada embalo de seu corpo constituí um mistério; um segredo! Meus pés estão me levando até lá, atrevidos pés errantes.
Espero também o trem, pra onde quer que ele vá. Estou a três passos dos cabelos e olhos incompreensíveis. Pego no ar um cheiro inebriante pulando daqueles cachos, um cheiro que talvez só exista dentro de mim, um delírio bem imaginado. Ela sorri um sorriso quase invisível, pois sabe que estou ali e quem eu sou. Sabe tudo de mim! O sorriso não me diz nada! Sinto-me em desvantagem; exposto e bobo, como moleque que é descoberto fazendo arte.
Estamos de frente, dois passos de distância, dentro do trem. Os pequenos pés, incertos, encolhidos e bem juntos palpitam ou gargalham. Foragidos cruéis ou divindades humildes? Ela está me vendo sem olhar. Que diabo é esse olhar?! É desejo, ironia, cobiça ou escárnio? Insolúvel enigma, novamente. Ela é todo segredo. Uma esfinge! Sim, uma esfinge impenetrável e oblíqua.
- Devora-me, pois não lhe decifro! – Eu gritaria! Ela tem que saber que isso não se faz. É cruel e deleitável demais, vai contra as leis e experiências humanas! É pecado e benção, é infernal e paradisíaco! E olha e sorri – ou ri, não concede ao menos um pingo de suas verdades, se é que existem. Dou risada, creio que de mim mesmo.
Pela janela do trem vejo novamente os cabelos de tarde alaranjada, e já se pondo, eles se perdem em meio a tantos outros cabelos ordinários, tão corriqueiros. Os passos despreocupados, donos do mundo, vão ora certos ora incertos, embalando meus olhos. Quase sem respirar eu observo-a indo. Para nunca mais. Para sempre.
Viro pra trás e vejo os cabelos enrubescidos. Eu diria que tinham a cor de uma ferrugem clara, – ah! que indelicado eu! – mas não, de enferrujados não tinham nada, pois cada cacho e ondulação dançavam; seguiam o ritmo dos murmúrios da multidão ou então orquestravam essa sinfonia de cidade grande.
Vejo-a lá embaixo, longe, indo à plataforma esperar o trem.
Olho como criança abelhuda e mal-educada. Ela anda como se fosse dona do mundo e do tempo! Flutua sob pobres mortais e arrasa cidades inteiras com uma beleza sacro-pecadora. Cada passo, cada embalo de seu corpo constituí um mistério; um segredo! Meus pés estão me levando até lá, atrevidos pés errantes.
Espero também o trem, pra onde quer que ele vá. Estou a três passos dos cabelos e olhos incompreensíveis. Pego no ar um cheiro inebriante pulando daqueles cachos, um cheiro que talvez só exista dentro de mim, um delírio bem imaginado. Ela sorri um sorriso quase invisível, pois sabe que estou ali e quem eu sou. Sabe tudo de mim! O sorriso não me diz nada! Sinto-me em desvantagem; exposto e bobo, como moleque que é descoberto fazendo arte.
Estamos de frente, dois passos de distância, dentro do trem. Os pequenos pés, incertos, encolhidos e bem juntos palpitam ou gargalham. Foragidos cruéis ou divindades humildes? Ela está me vendo sem olhar. Que diabo é esse olhar?! É desejo, ironia, cobiça ou escárnio? Insolúvel enigma, novamente. Ela é todo segredo. Uma esfinge! Sim, uma esfinge impenetrável e oblíqua.
- Devora-me, pois não lhe decifro! – Eu gritaria! Ela tem que saber que isso não se faz. É cruel e deleitável demais, vai contra as leis e experiências humanas! É pecado e benção, é infernal e paradisíaco! E olha e sorri – ou ri, não concede ao menos um pingo de suas verdades, se é que existem. Dou risada, creio que de mim mesmo.
Pela janela do trem vejo novamente os cabelos de tarde alaranjada, e já se pondo, eles se perdem em meio a tantos outros cabelos ordinários, tão corriqueiros. Os passos despreocupados, donos do mundo, vão ora certos ora incertos, embalando meus olhos. Quase sem respirar eu observo-a indo. Para nunca mais. Para sempre.
14/09/2009
Dos Prazeres Humanos Não Divinos
Os prazeres! Carrascos e libertinos, conservadores e revolucionários! Ah! Como os prazeres são tão humanos! Sempre duais, irracionais e autodestrutivos! São atuantes modernos e refinados dos falhos cinco sentidos.
Aliás, prazer em conhecê-los! Sabeis que um dia vamos acabar, todos, e junto ao sepulcro podre, todos os nossos prazeres a cantarolar e roer nossa carne, bem como faziam em vida; vermes impuros e levianos que cantam sua glória, triunfantes.
Aliás, prazer em conhecê-los! Sabeis que um dia vamos acabar, todos, e junto ao sepulcro podre, todos os nossos prazeres a cantarolar e roer nossa carne, bem como faziam em vida; vermes impuros e levianos que cantam sua glória, triunfantes.
01/09/2009
A Paisagem Que Falava Sozinha
Estou aqui, mas ainda não sei bem pra onde ir.
Sabe como é. O céu anda eternamente nublado esses tempos
Tudo me parece meio indigesto, precisando de movimento; vida
Sinto que minha vida até agora foi só um prelúdio para algo maior
Tenho medo que essa seja uma sensação eterna, agonizante
Como se todo passo que eu desse fosse o primeiro passo
Imagine! Uma viagem toda feita só de primeiros passos!
Sim, eu sei, eu sei... Sei que não posso ficar parado aqui no meio, divagando, sem ao menos primeiros passos, preso entre o ir e o voltar, entre a preguiça e o tédio... é que...
É que eu parei pra ver a paisagem!
Juro.
... Não há paisagem?!
Sendo assim, eu sou a paisagem.
Pronto.
Sou a paisagem.
E o homem, paisagem espetacular que se tornou, ficou ali, chuva, sol e oceano.
Sabe como é. O céu anda eternamente nublado esses tempos
Tudo me parece meio indigesto, precisando de movimento; vida
Sinto que minha vida até agora foi só um prelúdio para algo maior
Tenho medo que essa seja uma sensação eterna, agonizante
Como se todo passo que eu desse fosse o primeiro passo
Imagine! Uma viagem toda feita só de primeiros passos!
Sim, eu sei, eu sei... Sei que não posso ficar parado aqui no meio, divagando, sem ao menos primeiros passos, preso entre o ir e o voltar, entre a preguiça e o tédio... é que...
É que eu parei pra ver a paisagem!
Juro.
... Não há paisagem?!
Sendo assim, eu sou a paisagem.
Pronto.
Sou a paisagem.
E o homem, paisagem espetacular que se tornou, ficou ali, chuva, sol e oceano.
25/08/2009
Eu Cheirava Lembranças na Gola da Camisa
Não eram lembranças vulgares ou mundanas, como um pedaço de suas costas ou seus pezinhos brancos; Não. Era algo nobre e bonito, daquelas coisas que fazem o peito estalar e se apertar todo: Eu não farejava somente uma pessoa ou um corpo ali naquela gola; Eu cheirava uma época inteira! Cada vez que meu nariz se inflava para apurar o aroma sutil, os olhos fechavam-se num movimento de reverência. Reverência e uma pitada de saudades e amadurecimento.
Então farejei sons, momentos, conversas, palavras de amor e olhares. Era eu um garimpeiro da própria lembrança. Garimpeiro simplório e sensível, que narrava com orgulho a glória de seus primeiros e reais achados: Belos diamantes, rubis e alexandritas. Verdadeiros frutos de uma época extraordinária da minha vida, onde me sentia completo e encontrado. Respirava o mais puro romance, de fato que diferente dos romances literários, pois era real e um tanto mais despretensioso.
Então farejei sons, momentos, conversas, palavras de amor e olhares. Era eu um garimpeiro da própria lembrança. Garimpeiro simplório e sensível, que narrava com orgulho a glória de seus primeiros e reais achados: Belos diamantes, rubis e alexandritas. Verdadeiros frutos de uma época extraordinária da minha vida, onde me sentia completo e encontrado. Respirava o mais puro romance, de fato que diferente dos romances literários, pois era real e um tanto mais despretensioso.
20/08/2009
Sobre o Ligeiro Garoto Embaraçador de Vidas
Ah! Maldito carrasco dos andares sem destino! Ah! Intrometido! Que fazes você, senão balançar minha vida, derrubando todos os meus enfeites e condecorações, tão bem escolhidos, estrategicamente posicionados?
Os ornamentos da minha vida, todos bagunçados e fora de lugar! Balança e balança outra vez! Meu tolo universo, recém formado, parece então não existir e fica tudo atirado ao chão, cabendo a mim, e somente a mim, já fatigado, colocar tudo no lugar.
Que é você, espertalhão, senão uma criança desordeira e malvada?! Sim, uma criança malvada e manhosa, que vem e me espeta um palito no coração quando aborrecida. Não farei o que quer, percebes? Não farei, sou livre.
Ria, ria mesmo, ardiloso moleque, pois não preciso mais de teus palpites e planos mirabolantes. Vou seguir. Sozinho. Além do mais, pensas que é senhor de algo aqui na terra! É mesmo um cínico. Nunca lhe fora dedicado um romance, um épico, nem ao menos, um livrinho de poesia. Não passas de um irônico marginal.
E que os ingênuos me perguntem:
-Ó, como pode ser assim de tudo má uma criança, que é fresca na vida? Exageras meu caro!”
E então responderia, com cordial benevolência, uma pitada de desgosto e brilho nos olhos; talvez um meandro de lágrimas:
-Meus caros tolos, não sabeis o nome deste brejeiro mal-criado que chamamos, educadamente, de Acaso.
Os ornamentos da minha vida, todos bagunçados e fora de lugar! Balança e balança outra vez! Meu tolo universo, recém formado, parece então não existir e fica tudo atirado ao chão, cabendo a mim, e somente a mim, já fatigado, colocar tudo no lugar.
Que é você, espertalhão, senão uma criança desordeira e malvada?! Sim, uma criança malvada e manhosa, que vem e me espeta um palito no coração quando aborrecida. Não farei o que quer, percebes? Não farei, sou livre.
Ria, ria mesmo, ardiloso moleque, pois não preciso mais de teus palpites e planos mirabolantes. Vou seguir. Sozinho. Além do mais, pensas que é senhor de algo aqui na terra! É mesmo um cínico. Nunca lhe fora dedicado um romance, um épico, nem ao menos, um livrinho de poesia. Não passas de um irônico marginal.
E que os ingênuos me perguntem:
-Ó, como pode ser assim de tudo má uma criança, que é fresca na vida? Exageras meu caro!”
E então responderia, com cordial benevolência, uma pitada de desgosto e brilho nos olhos; talvez um meandro de lágrimas:
-Meus caros tolos, não sabeis o nome deste brejeiro mal-criado que chamamos, educadamente, de Acaso.
31/07/2009
Náufrago de Peles
Minha língua lambe todas as promessas de maçãs que lhe escorrem da boca, e lhe caem aos seios, escorrendo também por tua barriga. As promessas são ardentes, olorosas e confortantes e seguem viajando por tua pele, eriçando todo o teu corpo.
Minha boca estupefata, entreaberta, puxa, solta e morde todas as promessas de beijos quentes que transpiram de todos os seus poros. Minha boca ora tola, ora astuta, deseja sentir toda sua essência numa só lambida; te engolir numa passada de lábios.
Vejo amanhãs correndo em suas costas; Sim, e eles querem ir apressados, mas se perdem na sinuosidade do teu corpo. Curvam-se na sua cintura, querendo atalho, e chegam em teu ventre, pátria de toda a existência; febril ventre em brasa, que exala fragrâncias, como se almíscar fosse derramado em pedra fervente.
Minhas mãos barram a passagem da sua cintura e minha língua lambe teu ventre e varre todo e qualquer amanhã, todo ontem, todo hoje. Varre todo o tempo. Estamos não mais à mercê do tempo. Varro todo eu; não lembro mais meu nome, só sei que agora estou aqui, num momento que mordisca o divino; emociono.
Estamos à mercê do corpo, da língua, do gozo da alma, que vai nos alagando o olhar, e cada toque na pele parece um naufrago encharcado e prazeroso. Aos poucos nossos mares se misturam todos, entre ondas e marolas, cada uma tão intensa quanto outra. Desejos humanos e divinos se confundem.
O suor se mistura ofegante e os cabelos se emaranham também rendidos à nau criada por nosso atrito; a pele faz um barulho chiado, um barulho de pele, no meio do nada, como imensas velas sacudindo numa tempestade de gotas doces e humanas. Estamos só eu e você e somos só eu e você, navegantes de sentimentos oceânicos.
Minha boca estupefata, entreaberta, puxa, solta e morde todas as promessas de beijos quentes que transpiram de todos os seus poros. Minha boca ora tola, ora astuta, deseja sentir toda sua essência numa só lambida; te engolir numa passada de lábios.
Vejo amanhãs correndo em suas costas; Sim, e eles querem ir apressados, mas se perdem na sinuosidade do teu corpo. Curvam-se na sua cintura, querendo atalho, e chegam em teu ventre, pátria de toda a existência; febril ventre em brasa, que exala fragrâncias, como se almíscar fosse derramado em pedra fervente.
Minhas mãos barram a passagem da sua cintura e minha língua lambe teu ventre e varre todo e qualquer amanhã, todo ontem, todo hoje. Varre todo o tempo. Estamos não mais à mercê do tempo. Varro todo eu; não lembro mais meu nome, só sei que agora estou aqui, num momento que mordisca o divino; emociono.
Estamos à mercê do corpo, da língua, do gozo da alma, que vai nos alagando o olhar, e cada toque na pele parece um naufrago encharcado e prazeroso. Aos poucos nossos mares se misturam todos, entre ondas e marolas, cada uma tão intensa quanto outra. Desejos humanos e divinos se confundem.
O suor se mistura ofegante e os cabelos se emaranham também rendidos à nau criada por nosso atrito; a pele faz um barulho chiado, um barulho de pele, no meio do nada, como imensas velas sacudindo numa tempestade de gotas doces e humanas. Estamos só eu e você e somos só eu e você, navegantes de sentimentos oceânicos.
29/07/2009
Sobre Os Pés E Os Corações Errantes
Sim, este sou eu. Um poço de sentimentalismo de fácil acesso - nunca fui restrito. Sim, sou eu mesmo. O que achas você de seus belos feitos, até então? Tem conseguido o que quer? Sabes, ao menos, o que quer de mim? E de você?
Tu vens com toda essa beleza animalesca, que é somente entulho de exibição, uma parcela miserável de tudo de delirante que guarda nas ilhas e cavernas de tua pele; vem sim, vem lenta, forte e avassaladora e me joga de um lado para o outro, em teu mar de ondas ébrias.
Eu me entrego. Não tenho mais forças para essas passagens de jovens: Pegue todos, todos os meus sentimentos! Ah! São tão simplórios e bonachões... Pobres doidos imaculados são os meus sentimentos! Não os deixe guardados nas caixas empoeiradas das lembranças... não! Com risos irrisórios e faceiros, monta todo um teatro de fantoches com cada um deles! Claro que para seu próprio deleite. Pra que mais usá-los-ia? Nunca os deixe ali na caixa, no fundo, úmidos e taciturnos.
E agora que estamos lado a lado, descalços? E agora que esbarrou comigo nas geométricas coincidências da vida? Pra onde vamos? Você estava me seguindo? Tudo bem, tudo bem; mesmo assim, eu continuo indo com você.
Sigamos nossos pés ciganos! Façamos nosso caminho. O mundo é grande e você também é. O mundo é nosso.
Tu vens com toda essa beleza animalesca, que é somente entulho de exibição, uma parcela miserável de tudo de delirante que guarda nas ilhas e cavernas de tua pele; vem sim, vem lenta, forte e avassaladora e me joga de um lado para o outro, em teu mar de ondas ébrias.
Eu me entrego. Não tenho mais forças para essas passagens de jovens: Pegue todos, todos os meus sentimentos! Ah! São tão simplórios e bonachões... Pobres doidos imaculados são os meus sentimentos! Não os deixe guardados nas caixas empoeiradas das lembranças... não! Com risos irrisórios e faceiros, monta todo um teatro de fantoches com cada um deles! Claro que para seu próprio deleite. Pra que mais usá-los-ia? Nunca os deixe ali na caixa, no fundo, úmidos e taciturnos.
E agora que estamos lado a lado, descalços? E agora que esbarrou comigo nas geométricas coincidências da vida? Pra onde vamos? Você estava me seguindo? Tudo bem, tudo bem; mesmo assim, eu continuo indo com você.
Sigamos nossos pés ciganos! Façamos nosso caminho. O mundo é grande e você também é. O mundo é nosso.
23/07/2009
Refúgio nas Terras Tuas
Tuas palavras me tocam e me emocionam, como um canto vindo de uma terra distante, onde todos os cheiros da sua pele e os sabores do teu âmago me esperam. São esses cheiros e sabores uma mistura minha e tua, como uma espécie de feitiço que sempre existiu.
Esperam-me! Estou certo disso. O ar bêbedo que vem das tuas terras, ar quente e sensual, me sopra aos ouvidos a todo o momento: “És tua, és tua, cigano! Caminha firme, cigano!” e aí sei que teus cheiros e sabores me esperam, numa terra onde já te vi, dançando de pés descalços, as pernas jubilosas, lançava-me olhares através da fogueira. Puxava a barra do seu vestido, como se puxasse a mim, e teu olhar esverdeado ganhava força nas palmas e cantos alegres, chegando a mim, primoroso, tocando nos píncaros de todas as minhas vontades; divinas ou pecadoras, tanto fazia.
Estou seguindo meus pés. Neste momento. Meus pés ciganos. Posso ouvir cada vez mais perto os violões queimando acordes instigantes e o lamento intenso, gemente, dos cantos zíngaros, que cruzam o ar de suas terras. Meus pés errantes e calejados estão me levando às seus quentes chãos, novamente, onde encontrarei você, na nossa cabana, e me confortará, e será confortada.
E a sede vai acabar. A sede desta longa viagem, esta sede dos pés viajantes, dos olhos secos pelo vento, da boca árida... Esta sede acabará definhando nos teus cabelos de cheiros exóticos e também teus moles, molhados e preguiçosos beijos, que parecem infindáveis como fontes d'água que jorram da pedra pura! E tuas mãos, mãos com cheiro de frutas, as unhas vestidas de cores vivas a percorrer todos os meus músculos frouxos e cansados, cada cicatriz; visível ou não.
E então vamos estar protegidos do tempo, irmão mais velho do ar, pois a cabana nossa é atemporal e foge de todo o desgaste do vento. Com um olhar, fundo e encharcado, vamos parar o mundo, nos afogando um no outro. Nada, nada vai nos tirar um do outro agora.
Livres seremos nossos, e juntos seremos livres.
Esperam-me! Estou certo disso. O ar bêbedo que vem das tuas terras, ar quente e sensual, me sopra aos ouvidos a todo o momento: “És tua, és tua, cigano! Caminha firme, cigano!” e aí sei que teus cheiros e sabores me esperam, numa terra onde já te vi, dançando de pés descalços, as pernas jubilosas, lançava-me olhares através da fogueira. Puxava a barra do seu vestido, como se puxasse a mim, e teu olhar esverdeado ganhava força nas palmas e cantos alegres, chegando a mim, primoroso, tocando nos píncaros de todas as minhas vontades; divinas ou pecadoras, tanto fazia.
Estou seguindo meus pés. Neste momento. Meus pés ciganos. Posso ouvir cada vez mais perto os violões queimando acordes instigantes e o lamento intenso, gemente, dos cantos zíngaros, que cruzam o ar de suas terras. Meus pés errantes e calejados estão me levando às seus quentes chãos, novamente, onde encontrarei você, na nossa cabana, e me confortará, e será confortada.
E a sede vai acabar. A sede desta longa viagem, esta sede dos pés viajantes, dos olhos secos pelo vento, da boca árida... Esta sede acabará definhando nos teus cabelos de cheiros exóticos e também teus moles, molhados e preguiçosos beijos, que parecem infindáveis como fontes d'água que jorram da pedra pura! E tuas mãos, mãos com cheiro de frutas, as unhas vestidas de cores vivas a percorrer todos os meus músculos frouxos e cansados, cada cicatriz; visível ou não.
E então vamos estar protegidos do tempo, irmão mais velho do ar, pois a cabana nossa é atemporal e foge de todo o desgaste do vento. Com um olhar, fundo e encharcado, vamos parar o mundo, nos afogando um no outro. Nada, nada vai nos tirar um do outro agora.
Livres seremos nossos, e juntos seremos livres.
26/06/2009
Aos Meus Bons Tolos
Ah virtuosos do coração! Vocês que são tão belos e encantadores em tuas palavras, teus cantos, tuas artes; vocês que sentem o mundo de forma singular e exagerada; Belas pessoas vocês que vêem além dos olhos cegos da matemática!
Ah, virtuosos do coração! Artistas desconhecidos da simplicidade dos dias e profundos sábios daquilo que se passa dentro do peito e escorrega pelas palavras entrelinhadas! Tranças de sentimentos considerados tolos que se enlaçam, crescem e, inclassificáveis, desaparecem, sem que ninguém os notem... Mas vocês... Ah, vocês! Como são bons em seus métodos!
Saibam vocês, aqui aludidos, que serão abençoados com os infortúnios sociais do destino! – Amém. E digo-lhes mais, melancólicos, vocês que sabem amar, vocês que sabem das peripécias maravilhosas do mundo e dos sentimentos, vocês que tecem belas conversas, vocês que pintam, atuam, tocam... Ah, estão todos perdidos! Perdidos!
E por que perdidos? Ah! É a dualidade do mundo, presente em tudo. Profundos como vocês terão que andar nos extremos das situações humanas! Ah! Sim! Terão que cuspir sinceridade àqueles que lhes chateiam. Sensivelmente atingindo a insensibilidade terão que saber como magoar, ferir e desprezar... Sim! São os ossos do ofício! Não basta o carinho e a compreensão. Não basta. Terá que ser cruel.
O virtuoso do coração que não sabe como operar com sentimentos sombrios e opostos vai padecer, e deixa esvair toda sua essência e inspiração através da casca da falsidade que criou para não desagradar aqueles que lhe perturbavam de algum modo, por mais ínfimo que seja. E digo que os virtuosos são ótimos nisso, sabem muito bem ser ardilosos com máscaras, mesmo que acabem sufocados por elas, algum dia.
Ó, infelizes irmãos das virtudes humanas! Ó, desventurados companheiros da sensibilidade singular! Lembrem do que escrevo para vocês, por mais asqueroso que seja, um dia usará das virtudes contrárias.
Ó tolos sentimentais e incansáveis pensantes! Ó exagerados da vida e cúmplices do subliminar! Ó, meus iguais!
Ah, virtuosos do coração! Artistas desconhecidos da simplicidade dos dias e profundos sábios daquilo que se passa dentro do peito e escorrega pelas palavras entrelinhadas! Tranças de sentimentos considerados tolos que se enlaçam, crescem e, inclassificáveis, desaparecem, sem que ninguém os notem... Mas vocês... Ah, vocês! Como são bons em seus métodos!
Saibam vocês, aqui aludidos, que serão abençoados com os infortúnios sociais do destino! – Amém. E digo-lhes mais, melancólicos, vocês que sabem amar, vocês que sabem das peripécias maravilhosas do mundo e dos sentimentos, vocês que tecem belas conversas, vocês que pintam, atuam, tocam... Ah, estão todos perdidos! Perdidos!
E por que perdidos? Ah! É a dualidade do mundo, presente em tudo. Profundos como vocês terão que andar nos extremos das situações humanas! Ah! Sim! Terão que cuspir sinceridade àqueles que lhes chateiam. Sensivelmente atingindo a insensibilidade terão que saber como magoar, ferir e desprezar... Sim! São os ossos do ofício! Não basta o carinho e a compreensão. Não basta. Terá que ser cruel.
O virtuoso do coração que não sabe como operar com sentimentos sombrios e opostos vai padecer, e deixa esvair toda sua essência e inspiração através da casca da falsidade que criou para não desagradar aqueles que lhe perturbavam de algum modo, por mais ínfimo que seja. E digo que os virtuosos são ótimos nisso, sabem muito bem ser ardilosos com máscaras, mesmo que acabem sufocados por elas, algum dia.
Ó, infelizes irmãos das virtudes humanas! Ó, desventurados companheiros da sensibilidade singular! Lembrem do que escrevo para vocês, por mais asqueroso que seja, um dia usará das virtudes contrárias.
Ó tolos sentimentais e incansáveis pensantes! Ó exagerados da vida e cúmplices do subliminar! Ó, meus iguais!
20/06/2009
Pele de Tela
pingadas ao acaso
minhas formas em teu corpo
como manchas de tinta
na sua pele de tela
despreocupados
os contornos são traçados
fogem à forma e giram
preguiçosos
respinga chuva
o suor fremente que escorre
salpica salgadas gotas
em nossa pintura
atingidos por pincéis
os cabelos se mesclam
como num combate
inofensivo
pés quentes
e as mãos formam
pássaros a voar num céu
multicolorido
pincelamo-nos
misturando nossas cores
qual belo espetáculo
aleatório
suas preciosas tintas
de cheiro mole e fresco
me sujam as roupas
e a mente
minhas formas em teu corpo
como manchas de tinta
na sua pele de tela
despreocupados
os contornos são traçados
fogem à forma e giram
preguiçosos
respinga chuva
o suor fremente que escorre
salpica salgadas gotas
em nossa pintura
atingidos por pincéis
os cabelos se mesclam
como num combate
inofensivo
pés quentes
e as mãos formam
pássaros a voar num céu
multicolorido
pincelamo-nos
misturando nossas cores
qual belo espetáculo
aleatório
suas preciosas tintas
de cheiro mole e fresco
me sujam as roupas
e a mente
14/06/2009
Videira
O melhor mesmo foi o vinho
ela tinha uma videira inteira,
Mostrava – risada
tuas fulguras
colhia-lhe as uvas, no ventre
Afastava as pernas – e a calça.
Ebriáticos.
Então, provava de teu vinho
âmago...
Bradava, qual menina faceira,
o teu desinteresse pelo mundo.
Me chamou imaculado;
louca – eu ria.
Eu lhe mordia as formas
e os contornos desapareciam;
era noite
ela tinha uma videira inteira,
Mostrava – risada
tuas fulguras
colhia-lhe as uvas, no ventre
Afastava as pernas – e a calça.
Ebriáticos.
Então, provava de teu vinho
âmago...
Bradava, qual menina faceira,
o teu desinteresse pelo mundo.
Me chamou imaculado;
louca – eu ria.
Eu lhe mordia as formas
e os contornos desapareciam;
era noite
11/06/2009
Um Triunfo no Farol
Apoiou-se num poste, esperando o farol abrir. Os carros passavam rápido demais. Estaria bêbado já aquela hora? Difícil saber. O sol, pálido e fosco, nascia como bebê prematuro, numa quarta-feira.
Rápido demais, os carros continuavam passando. Talvez rápido demais para seus olhos e para a vida. Não podia entender. Ficava ali, como decoração, preso ao poste pelos pregos do desânimo. Escultura de pedra. Pedra fria e triste.
Resmungou qualquer coisa, caçando um cigarro no bolso da camisa e o farol fechou. Verde, amarelo, vermelho. Atravessou, lento, pesado. O tipico passo de quem não cultua ambições; o passo do tédio; do conformado.
Por um momento, olhou para aquelas maquinas paradas com um olhar soberano, superior. Agora eram seus iguais, ou até mesmo inferiores: Estavam todos parados, esperando, os motores com o barulho constante. Atravessou como se fosse um triunfo, soberano de uma batalha justa.
O farol abriu e os carros voltaram a passar. Praguejou algo, gesticulando com as mãos e o cigarro dançando na boca. Malditos carros, de certo pensava. E já do outro lado da rua, o olhar voltou a ficar perdido entre os vultos barulhentos. Mas não lhe davam atenção ou prestígio nobre; só passavam, rápido demais.
Rápido demais, os carros continuavam passando. Talvez rápido demais para seus olhos e para a vida. Não podia entender. Ficava ali, como decoração, preso ao poste pelos pregos do desânimo. Escultura de pedra. Pedra fria e triste.
Resmungou qualquer coisa, caçando um cigarro no bolso da camisa e o farol fechou. Verde, amarelo, vermelho. Atravessou, lento, pesado. O tipico passo de quem não cultua ambições; o passo do tédio; do conformado.
Por um momento, olhou para aquelas maquinas paradas com um olhar soberano, superior. Agora eram seus iguais, ou até mesmo inferiores: Estavam todos parados, esperando, os motores com o barulho constante. Atravessou como se fosse um triunfo, soberano de uma batalha justa.
O farol abriu e os carros voltaram a passar. Praguejou algo, gesticulando com as mãos e o cigarro dançando na boca. Malditos carros, de certo pensava. E já do outro lado da rua, o olhar voltou a ficar perdido entre os vultos barulhentos. Mas não lhe davam atenção ou prestígio nobre; só passavam, rápido demais.
10/06/2009
Sobre a Panturrilha Inflamada e os Copos d'Água
Eu que pensava que tudo era oceano, ao me deparar com os incalculáveis passos no asfalto, vi que não passavam de copos d’água salgados. Andei milhares de metros e metrôs, por várias horas, sozinho. Chorando, como criança perdida no tumulto das seis horas da tarde; os olhos ausentes.
Os motivos que levam tais coisas acontecerem - chorar e andar sem rumo – são óbvios demais, enfadonhos para mentes calejadas, talvez. “Ah, os jovens! Ah, os exageros! Ah, as paixões!” diriam, empregando a mesma ortodoxia irritante de pensamentos lógicos e infelizes.
Andando encontrei três figuras que tocavam violão. Estava chovendo, que importa? Me sentei no chão com eles. "Onde há música não pode haver maldade.", como diria Cervantes.
A música deles era bela ou então meu estado de espírito que, lírico demais, fazia do menor bater de folhas algo divino e infinito, como os poetas fazem. Então, decidi seguir meu rumo sem rumo. Fui andando, errante, até que meus pés me levaram pra casa.
Sinto que esse dia trouxe algo de inexplicável e misterioso para o resto dos meus outros dias. E não foi só a panturrilha inflamada, vítima das andanças. Não foi: Foi como se esse estado solene, triste, ficasse como tatuagem, sempre ali marcado, pra lembrar de algo, algum dia.
10/05/2009
Escovas de Dente e Nostalgia
A gaveta de camisetas era separada da seguinte forma: Mangas cortadas e mangas não-cortadas. Algumas calças gastas. Quando faz frio, pula numa jaqueta e saí, pra sentir o vento frio no couro. O bom das jaquetas é que você pode usa-las com camisas de manga cortada. Uma camisa branca, para as bobeirites.
Ainda lá, na parte de cima, vários comprovantes e atestados, recibos; que seja. Sempre há espaço para recordações nostálgicas no armário de uma pessoa que realmente vive e aprecia isso. A vida é isso: viver. E estes papeizinhos não atestam nada, comparados à tais objetos desencadeantes de memórias; verdadeiros gatilhos, ratoeiras de emoção, que ficam ali, só esperando por um olhar.
Ali, no pote com canetas, ainda permanecia uma escova de dentes, quase nova, que escovou dentes em tardes vazias. Escovou ao lado de outra escova, de outra pessoa, também sorridente, que lhe sujava a ponta do nariz com as mãos sujas de pasta, e depois um olhar e um beijo na testa, e torna ao nariz, com a mão cheia d’água, mas agora para molha-la.
Nós crescemos, e sempre deixamos algum desses objetos-prova no fundo das gavetas, em caixas em cima do armário, entre as páginas de livros, e qualquer outro lugar que possa surpreender-nos de forma quase cruel, pois nos coloca diante do próprio passado, mas tão sutil que faz congelar o olhar e o tempo, nos arrancando um leve sorriso.
Ainda lá, na parte de cima, vários comprovantes e atestados, recibos; que seja. Sempre há espaço para recordações nostálgicas no armário de uma pessoa que realmente vive e aprecia isso. A vida é isso: viver. E estes papeizinhos não atestam nada, comparados à tais objetos desencadeantes de memórias; verdadeiros gatilhos, ratoeiras de emoção, que ficam ali, só esperando por um olhar.
Ali, no pote com canetas, ainda permanecia uma escova de dentes, quase nova, que escovou dentes em tardes vazias. Escovou ao lado de outra escova, de outra pessoa, também sorridente, que lhe sujava a ponta do nariz com as mãos sujas de pasta, e depois um olhar e um beijo na testa, e torna ao nariz, com a mão cheia d’água, mas agora para molha-la.
Nós crescemos, e sempre deixamos algum desses objetos-prova no fundo das gavetas, em caixas em cima do armário, entre as páginas de livros, e qualquer outro lugar que possa surpreender-nos de forma quase cruel, pois nos coloca diante do próprio passado, mas tão sutil que faz congelar o olhar e o tempo, nos arrancando um leve sorriso.
06/04/2009
Sobre o Vazio e Lembranças
Esse sentimento de vazio no peito, ou em qualquer outra parte. Está frio, e frio é gostoso, mas frio dá saudades. Aliás, tanta coisa dá saudades.
Saudades é tão estranho; é a vontade de viver uma lembrança, mas lembranças foram feitas (foram feitas?) para que sejam vividas em memória, voltando e pausando cada movimento, cada bater de cílios, cada passo, como em algum filme ou sonho esquisito. Cada mínimo detalhe parece tão infinito numa lembrança, que podemos nos distrair durante minutos, longe do mundo, pensando e sentindo sem palavras.
Pensar e sentir sem palavras... Acho que isso que é uma lembrança.
Tudo parece tão estranho, o mundo parece tão mudado. Cada buraquinho na parede me parece algo tão profundo. Fico o caminho todo reparando nos beirais dos telhados, na superfície enferrujada dos portões e em outras coisas que pareceram nunca existir.
Engraçado tudo isso. Às vezes sorrio quando me vejo percebendo essas coisinhas no meu dia. De certa forma, sentir tudo isso é confortante. Eu diria que é como tocar uma música triste no violão. Não sei explicar essa metáfora.
Acho que no fundo não sei explicar coisa alguma. O amor? Apesar de sentir, lembrar e chorar, não sei nada sobre o amor.
Saudades é tão estranho; é a vontade de viver uma lembrança, mas lembranças foram feitas (foram feitas?) para que sejam vividas em memória, voltando e pausando cada movimento, cada bater de cílios, cada passo, como em algum filme ou sonho esquisito. Cada mínimo detalhe parece tão infinito numa lembrança, que podemos nos distrair durante minutos, longe do mundo, pensando e sentindo sem palavras.
Pensar e sentir sem palavras... Acho que isso que é uma lembrança.
Tudo parece tão estranho, o mundo parece tão mudado. Cada buraquinho na parede me parece algo tão profundo. Fico o caminho todo reparando nos beirais dos telhados, na superfície enferrujada dos portões e em outras coisas que pareceram nunca existir.
Engraçado tudo isso. Às vezes sorrio quando me vejo percebendo essas coisinhas no meu dia. De certa forma, sentir tudo isso é confortante. Eu diria que é como tocar uma música triste no violão. Não sei explicar essa metáfora.
Acho que no fundo não sei explicar coisa alguma. O amor? Apesar de sentir, lembrar e chorar, não sei nada sobre o amor.
02/04/2009
Deixe-me Lembrar Ao Menos De Seus Pezinhos Palpitantes
Esses pequenos pezinhos
Continuam pelo chão
Pés trinta e quatro
[Vão
Dançar e passear
Sozinhos]
Num rumo sem rumoDançar e passear
Sozinhos]
Continuam pelo chão
[Vejo-os
em água e sal
Diluídos na visão]
Implorando beijinhosem água e sal
Diluídos na visão]
Pés trinta e quatro
[e meio
que sinto saudades
do que eu não vivi]
que vão, sem passar.
que sinto saudades
do que eu não vivi]
27/02/2009
Goteiras
Duas goteiras cheias de sentimento molhavam o piso branco. Estava chovendo, mas não era o telhado, nem o forro. Um frevo ou um tango tocava; que importa? Não lhe fazia diferença. Algumas doses e sentiu-se confortavelmente livre para gargalhar.
Logo as goteiras tristes viraram duas luas nebulosas, quais parecem cair do céu a todo instante. O olhar mirrado encarando o espelho não olhava nada. Estava vazio. As sobrancelhas vez ou outra se contorciam, para sentirem-se vivas e longe do tédio, fingindo expressões inexistentes naquele desafortunado rosto melancólico.
A cada passo sentia diluindo-se no chão. Bêbado e triste, poupou a cama de seu mau-cheiro, e acomodou-se num canto do quarto. Caiu num sono pesado e sonhou confusão e tristeza.
Os primeiros raios de sol penetraram o quarto, então se sentiu vivo de novo. Precisava de um novo começo. Não foi trabalhar; precisava de coisas reais. Ficaria bem. Tinha certeza.
Logo as goteiras tristes viraram duas luas nebulosas, quais parecem cair do céu a todo instante. O olhar mirrado encarando o espelho não olhava nada. Estava vazio. As sobrancelhas vez ou outra se contorciam, para sentirem-se vivas e longe do tédio, fingindo expressões inexistentes naquele desafortunado rosto melancólico.
A cada passo sentia diluindo-se no chão. Bêbado e triste, poupou a cama de seu mau-cheiro, e acomodou-se num canto do quarto. Caiu num sono pesado e sonhou confusão e tristeza.
Os primeiros raios de sol penetraram o quarto, então se sentiu vivo de novo. Precisava de um novo começo. Não foi trabalhar; precisava de coisas reais. Ficaria bem. Tinha certeza.
25/02/2009
Acordar
A barba mal-feita coçando o fez acordar. Não olhou no relógio nem no espelho. Tudo estava intacto, como sempre esteve.
-O mundo é tão absurdo quanto um sonho. – Balbuciou sonolento – Trabalhamos, nos relacionamos, ficamos gripados... Comemos macarrão no domingo. Isso tudo é um grande absurdo. - E riu, ainda coçando a barba.
A barba mal-feita coçando o fez acordar. Não olhou no relógio nem no espelho. Tudo estava intacto, como sempre esteve.
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-O mundo é tão absurdo quanto um sonho. – Balbuciou sonolento – Trabalhamos, nos relacionamos, ficamos gripados... Comemos macarrão no domingo. Isso tudo é um grande absurdo. - E riu, ainda coçando a barba.
A barba mal-feita coçando o fez acordar. Não olhou no relógio nem no espelho. Tudo estava intacto, como sempre esteve.
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29/01/2009
Sobre o Peixe Amarelo Desaparecido
Aconteceu outra vez. Oito e quarenta e três. Céu claro, poucas nuvens, sol alaranjado. Os cachorros latiam no quintal e o papagaio reclamava do barulho. Estavam agitados. Poderia ser um dia como qualquer outro, mas não foi.
Leonardo, detentor do aquário doméstico, localizado ao sudoeste da cozinha (debaixo da pequena prateleira com flores, sob a fruteira e anteposto à porta, de frente à mesa de jantar e ao oeste do toalete), surpreendeu-se ao dar falta de um dos cinco peixes residentes do aquário. Ainda sonolento, esfregou os olhos e tentou localizar o fugaz peixinho, pensando estar tendo alucinações. Assustou-se. Ele (o peixe) realmente não estava localizado no recinto aquariano, localizado à direita da geladeira familiar.
Foi então que me procuraram. Meio-Dia e Vinte e Sete. Eu estava inerte àquela hora da manhã. Engoli o café com os relatos desesperados do Sr. Leonardo, e da Sra. Tereza, co-detentora e sócia do aquário doméstico, localizado na zona de nutrição, cinco passos para o sudoeste partindo em vinte e três graus diretamente da entrada do corredor que vem e vai para a sala de estar. Estavam assustados. Leigos.
-Deixem-me sozinho... eu resolvo as coisas por aqui – Pedi, olhando para o horizonte com olhar sonhador, e o lábio inferior pouco rígido, a sobrancelha esquerda em sua extremidade direita ondulava, enquanto uma intensa atividade cerebral se desenvolvia.
Examinei o local do ocorrido com extrema perícia.
-Suicídio. – Decretei friamente. E andando de um lado para o outro, fazendo movimentos vagos com as mãos, continuei:
-O infortunado peixe suicidou-se batendo a cabeça no vidro do aquário, mas antes pediu para seus companheiros de estadia, os peixes dourados, para que queimassem seu corpo. Ele queria jogar com vocês. Esses peixes querem deixar vocês malucos, e estão conseguindo. – Deram um soluço de susto. Leigos.
Então transferimos os peixes-cúmplices para uma jarra de plástico de segurança máxima. Tentamos interrogá-los, mas se mostraram nervosos e contrariados. Tortura? Não. Não podíamos arriscar nossas testemunhas/suspeitos.
Treze horas e cinqüenta e três. O sol quente ajuda no clima de tensão. Investigamos o aquário, o corpo do peixe não estava enterrado nas pedrinhas coloridas. E os peixes não queimaram o corpo do suicida. Não.
Acabamos por achar o corpo do jovem peixe infortunado. Estava preso dentro de um pequeno pedaço de coral, numa de suas cavidades redondas.
Sra. Tereza não agüentou a visão horrenda e quase fantasmagórica do peixe defunto. Com seu lenço rendado saiu do recinto, num discreto pranto, e foi tomar um ar. Quase que lança seu café da manhã pelo chão rústico do quintal.
O peixinho macilento jazia com os olhinhos petrificados e sonhadores. Seu corpo estava inchado pela água e esbranquiçado pelo tempo. Pensei na família do peixinho, agora de um amarelo gasto. Eu estava quase emocionado, mas me recompus.
Sr. Leonardo, detentor do aquário, decidiu tirar todas as pedrinhas coloridas do aquário. Estava com medo de algum atentado. Nunca se sabe. Tirou também todas as frivolidades, como os enfeites e plantas artificiais. Os peixes ficaram quietos quando transportados de volta ao agora vazio doce lar. Acabou. Por enquanto.
Leonardo, detentor do aquário doméstico, localizado ao sudoeste da cozinha (debaixo da pequena prateleira com flores, sob a fruteira e anteposto à porta, de frente à mesa de jantar e ao oeste do toalete), surpreendeu-se ao dar falta de um dos cinco peixes residentes do aquário. Ainda sonolento, esfregou os olhos e tentou localizar o fugaz peixinho, pensando estar tendo alucinações. Assustou-se. Ele (o peixe) realmente não estava localizado no recinto aquariano, localizado à direita da geladeira familiar.
Foi então que me procuraram. Meio-Dia e Vinte e Sete. Eu estava inerte àquela hora da manhã. Engoli o café com os relatos desesperados do Sr. Leonardo, e da Sra. Tereza, co-detentora e sócia do aquário doméstico, localizado na zona de nutrição, cinco passos para o sudoeste partindo em vinte e três graus diretamente da entrada do corredor que vem e vai para a sala de estar. Estavam assustados. Leigos.
-Deixem-me sozinho... eu resolvo as coisas por aqui – Pedi, olhando para o horizonte com olhar sonhador, e o lábio inferior pouco rígido, a sobrancelha esquerda em sua extremidade direita ondulava, enquanto uma intensa atividade cerebral se desenvolvia.
Examinei o local do ocorrido com extrema perícia.
-Suicídio. – Decretei friamente. E andando de um lado para o outro, fazendo movimentos vagos com as mãos, continuei:
-O infortunado peixe suicidou-se batendo a cabeça no vidro do aquário, mas antes pediu para seus companheiros de estadia, os peixes dourados, para que queimassem seu corpo. Ele queria jogar com vocês. Esses peixes querem deixar vocês malucos, e estão conseguindo. – Deram um soluço de susto. Leigos.
Então transferimos os peixes-cúmplices para uma jarra de plástico de segurança máxima. Tentamos interrogá-los, mas se mostraram nervosos e contrariados. Tortura? Não. Não podíamos arriscar nossas testemunhas/suspeitos.
Treze horas e cinqüenta e três. O sol quente ajuda no clima de tensão. Investigamos o aquário, o corpo do peixe não estava enterrado nas pedrinhas coloridas. E os peixes não queimaram o corpo do suicida. Não.
Acabamos por achar o corpo do jovem peixe infortunado. Estava preso dentro de um pequeno pedaço de coral, numa de suas cavidades redondas.
Sra. Tereza não agüentou a visão horrenda e quase fantasmagórica do peixe defunto. Com seu lenço rendado saiu do recinto, num discreto pranto, e foi tomar um ar. Quase que lança seu café da manhã pelo chão rústico do quintal.
O peixinho macilento jazia com os olhinhos petrificados e sonhadores. Seu corpo estava inchado pela água e esbranquiçado pelo tempo. Pensei na família do peixinho, agora de um amarelo gasto. Eu estava quase emocionado, mas me recompus.
Sr. Leonardo, detentor do aquário, decidiu tirar todas as pedrinhas coloridas do aquário. Estava com medo de algum atentado. Nunca se sabe. Tirou também todas as frivolidades, como os enfeites e plantas artificiais. Os peixes ficaram quietos quando transportados de volta ao agora vazio doce lar. Acabou. Por enquanto.
23/01/2009
Sobre o Roubo
Certas tardes você se sente vazio e incompleto. Acredito que as tardes sejam especiais e até mesmo mágicas, elas parecem um período de transição para algo especial, que é a noite. Ela funciona como um preâmbulo para os acontecimentos noturnos. Talvez por isso as tardes sejam nostálgicas.
Eu pensava nisso enquanto subia a rua, numa tarde de sexta-feira. Eu estava angustiado; Tinha que levá-la à rodoviária, e não há nada pior que alguém querido partir numa tarde, pois você sempre vai ter o resto da tarde e toda a noite para ficar sozinho. Não reclamo de tardes com pessoas queridas, só digo que a noite combina mais com tais pessoas. Não sei explicar o por quê, a noite tem um cheiro, que é um tempero para uma boa companhia.
Foi então que vimos quatro livros em cima de uma mureta redonda, que fica numa esquina bem movimentada, ainda mais de sexta-feira com os bares fervilhando. Os livros estavam alinhados, como se arrumados por alguém. -Deve ser de alguém, concluímos, e seguimos nosso caminho. Eu estava intrigado, não se vê livros por aí jogados (de um modo organizado) todos os dias. Ainda mais numa tarde. Uma tarde de sexta.
Eu não quis isso! Juro que não! Mas fiquei completamente fora de mim quando, voltando pelo mesmo caminho, percebi que os livros ainda estavam lá! Não pude resistir, e andei devagar, perto da mureta para observar esses objetos fascinantes que são os livros. Os três últimos livros eram vermelhos, eram sobre idiomas, mas ironicamente, o mais próximo de mim foi o que me chamou a atenção. Preto, capa dura e desenho em dourado. Não era uma bíblia, pois um gato maligno estava desenhado aos pés de uma senhora com um longo vestido, que se espalhava por sobre toda a extensão da capa. Pude ler “Poe - Histórias Extraordinárias”.
UM PRESENTE DE DEUS! Isso! Um presente divino um livro numa tarde sexta-feira! Presenciei um milagre! Participei de um milagre. Bem sabe você que não se nega um presente. Ainda mais divino.
Eu desci a rua como se o livro sempre fora meu. Por algum motivo eu me sentia bem sem nenhum traço de remorso. Como eu poderia deixar aquele livro ali, sozinho? Digam-me! Como alguém, n’uma tarde de sexta-feira pode deixar livros ao relento?!
Folheei as páginas para ver se algo estava escrito, quem sabe uma mensagem de parabéns, uma dedicatória de algum amor, enfim, qualquer coisa. Mas nada estava escrito. Me senti poderoso, como qualquer homem que se apropria de algo que não lhe pertencia. Acontece que muitas vezes esse sentimento de poder é falso e nebuloso.
Fiz as formalidades e coloquei o livro na estante com meus outros, para que pudesse sentir-se melhor. Sabe-se lá, deve ser um tédio passar uma tarde de sexta-feira do lado de três livros de idiomas.
Três batidas apressadas bateram na porta. Tive um mau presságio e por um momento único senti um intenso remorso que durou segundos infinitos. Chacoalhei a cabeça e voltei a mim. Peguei o copo de café em cima da mesa, como se o recrutasse para meu companheiro. Como se ele pudesse me proteger. Eu estava com um medo irracional.
Girei a chave, e antes que pudesse ver quem batia na porta, fui surpreendido, e levei três tiros no peito. O rapaz de luvas foi embora, e olhando ao meu redor, vi uma poça de sangue, meu sangue, fazer uma forma disforme no tapete da sala.
O que mais me deixa confuso é que o livro continuou lá, na minha estante, com os outros livros. Não resisti e acabei por morrer naquela sexta-feira. O céu já estava escuro. Parece que a tal “transição para algo especial” realmente ocorreu para mim. Penso hoje em dia que tardes são perigosas, mão não me arrependo do meu singelo roubo.
18/01/2009
13/01/2009
Pisciana
Ela é todo um mar, calmo de dia, preguiçoso ao entardecer e revolto de noite. Injusto chamar-la apenas "Pessoa de peixes", sendo que suas águas perfumadas abrigam os mais variados tipos de cardumes multicoloridos e diversos tamanhos; sendo que suas águas escuras e profundas abrigam as criaturas luminicentes e misteriosas, dos mais estranhos e fascinantes hábitos.
Na sua superfície vejo uma praia sedutora. Teus seios são corais multicoloridos que se avivam a cada onda que os atinge. Ondas que partem do seu íntimo, trêmulas mas certeiras. Teus peixes pulam em quedas d'água repentinas, nadando contra a correnteza. Esses cabelos com fios de vários tons são marolas inebriantes, com picos fulgentes pelo sol do meio-dia. Afogo-me nesses cabelos como marujo entediado! Nas suas costas nuas quero jogar o meu corpo; Tuas costas são cristas de onda que me arrebatam para e frente e para trás num ritmo sereno e hipnotizante. Que essas ondas jamais me atire em terra firme. Quero nadar pelas ondas de seus corpo, como atleta.
Quero navegar como capitão em todos os seus muitos mares neste meu frágil barco construído com todo o meu exagero e paixão. As velas são minhas loucuras e sem âncora velejo até deparar-me com uma de suas possíveis pedras pontiagudas, que me servem de freio! Mas em cima de cada pedra existe uma sereia, que canta rodiada de seres simpáticos como caranguejos, ostras e bolachas do mar.
Teus peixes e cardumes são teus sentimentos, o mar e a correnteza o seu desejo e sentimento. Tuas pedras são tuas confusões que me afastam e tuas sereias e seres simpáticos são as certezas finais e inegáveis que me puxam para perto de ti.
Na sua superfície vejo uma praia sedutora. Teus seios são corais multicoloridos que se avivam a cada onda que os atinge. Ondas que partem do seu íntimo, trêmulas mas certeiras. Teus peixes pulam em quedas d'água repentinas, nadando contra a correnteza. Esses cabelos com fios de vários tons são marolas inebriantes, com picos fulgentes pelo sol do meio-dia. Afogo-me nesses cabelos como marujo entediado! Nas suas costas nuas quero jogar o meu corpo; Tuas costas são cristas de onda que me arrebatam para e frente e para trás num ritmo sereno e hipnotizante. Que essas ondas jamais me atire em terra firme. Quero nadar pelas ondas de seus corpo, como atleta.
Quero navegar como capitão em todos os seus muitos mares neste meu frágil barco construído com todo o meu exagero e paixão. As velas são minhas loucuras e sem âncora velejo até deparar-me com uma de suas possíveis pedras pontiagudas, que me servem de freio! Mas em cima de cada pedra existe uma sereia, que canta rodiada de seres simpáticos como caranguejos, ostras e bolachas do mar.
Teus peixes e cardumes são teus sentimentos, o mar e a correnteza o seu desejo e sentimento. Tuas pedras são tuas confusões que me afastam e tuas sereias e seres simpáticos são as certezas finais e inegáveis que me puxam para perto de ti.
08/01/2009
Saudade
saudade
sau.da.de
sf (lat solitate) 1 Recordação nostálgica que faz pesar o peito e os ponteiros relógio, fazendo dos dias muito compridos. 2 Vontade desenfreada de tornar a vê-la(o), beijar, abraçar, morder e falar todas as loucuras e besteiras que vêm na cabeça. 3 Sentimento sorrateiro que lhe ataca quando ouve alguma música ou olha para algo que a(o) lembre. 4 Verificação excessiva e exagerada de instrumentos como o relógio, calendário, caixa de e-mails, celular e fotos. 5 Sentir uma verdadeira falta, um buraco nos seus dias. 6 Vontade de nunca mais deixa-la(o) partir para muito longe por muito tempo. 7 Necessidade de poder fazer cócegas e carinhos numa tarde vazia.
sau.da.de
sf (lat solitate) 1 Recordação nostálgica que faz pesar o peito e os ponteiros relógio, fazendo dos dias muito compridos. 2 Vontade desenfreada de tornar a vê-la(o), beijar, abraçar, morder e falar todas as loucuras e besteiras que vêm na cabeça. 3 Sentimento sorrateiro que lhe ataca quando ouve alguma música ou olha para algo que a(o) lembre. 4 Verificação excessiva e exagerada de instrumentos como o relógio, calendário, caixa de e-mails, celular e fotos. 5 Sentir uma verdadeira falta, um buraco nos seus dias. 6 Vontade de nunca mais deixa-la(o) partir para muito longe por muito tempo. 7 Necessidade de poder fazer cócegas e carinhos numa tarde vazia.
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