18/12/2015

cucurrucucu

pense numa pomba que machucou a perna (e talvez até a asa) e manca, mas ninguém se importa - pois as pombas são todas iguais e são muitas - os cachorros são mais legais e fiéis, eles dizem.

não há movimentos pela vida das pombas, adoção de pombas, ou pombas bonitinhas na internet com touquinhas de papai-noel brilhando e dando bom dia.

os velhinhos que jogam migalhas às pombas todo domingo - eles são quase odiados. Importar-se com pombas só poderia significar mesmo a iminência da morte que os puxa os cabelos pouco a pouco.

e nada disso eu digo com pena ou com protesto ou com a bandeira das pombas "salvadoras da bondade humana" - só percebo como elegemos certas criaturas para nossa vida, para nos sentirmos tão importantes nessa cadeia alimentar sentimental da qual se nutre o ego.

lembrei-me de um conhecido que cumpria pena numa instituição que trabalhei. o nome dele era Vaderly e ocasionalmente caçava pombas na rua pra vender - nunca entendi como - mas dizia que as brancas valiam mais.

Eu imaginava aquela situação e meio que ria: Um homem calvo e gordinho caçando pombas na rua em pleno 2014

uma outra passagem: em outra instituição que trabalhei, também uma escola. um professor de educação física aposentado fazia trabalhos voluntários. Ele levava no final do ano uma espingarda de chumbinho - e como este é um texto sobre as pombas, vocês podem imaginar.

e você, já parou pra pensar sobre a vida das pombas? Ignoramos tantas coisas e fingimos saber de tantas outras.