tag:blogger.com,1999:blog-58843742532315581582024-03-13T20:57:21.822-03:00Válvula de mundo-grandeFelipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.comBlogger215125tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-11907055284007738952022-11-27T21:49:00.003-03:002022-11-27T21:52:16.643-03:00Muita Palavra (Diário de Escrita #1)<p style="text-align: justify;">Tô fazendo um trabalho de psicologia sobre a escrita como ferramenta de elaboração do sofrimento e desenvolvimento de questões pessoais. Esse relato vai nesse sentido.</p><p style="text-align: justify;">Me pego resistente ao encarar o papel, mesmo sabendo do benefício que trazem as palavras escritas.</p><p></p><div style="text-align: justify;">Comecei um poema de amor que não consigo terminar</div><div style="text-align: justify;">parece que sempre tá faltando algo, sabe? Vejo se tornar cada vez mais longo, cheio dos caminhos, figuras, passados e futuros e outras complicações.</div><p></p><p style="text-align: justify;">Fico pensando se atravanco o amor botando muita palavra nele, como faço com a escrita.</p><p style="text-align: justify;">Tem uma desafetuosa professora que me critica ao avaliar meus trabalhos: me chama de prolixo (“quem usa palavras em demasia ao falar ou escrever; que não sabe sintetizar o pensamento”, no dicionário.)</p><p style="text-align: justify;">Apesar de ninguém gostar desta professora, e por motivos válidos de desdém profissional, eu gosto um pouco dela. Acho que a crítica que faz responde muitos problemas de pensamentos obsessivos e compulsivos que carrego, de poemas sem fim.</p><p><br /></p>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-55450162283727008722022-10-28T21:26:00.003-03:002022-10-28T21:29:36.828-03:00Vc escreve pra quê?<div style="text-align: left;">Fico muito tempo sem escrever</div><div style="text-align: left;"><div><br />Perco o prumo<br />flutuando muito alto em muito mundo<br />como dar conta de tudo que preciso despejar aqui<br />com esse fino funil feito de olhos e dedos?</div><div><br />Perco a prosa<br />pq custa tanto atualizar o papel com uma história <br />sobre coisas leves e tão bobas, mas que fariam tão bem</div><div>e então poder reconhecer:<br />“meu sonho é um pequenino sonho meu”</div><div><br /></div><div>Penso naquele "escrever de adolescente", <br />forçadamente fazer poesia, na base do pé-de-cabra<br />declamando embaixo da luz do poste e um amigo tocando violão<br />tudo pra dar um ar bem melancólico e nos acharmos blues demais<br /><br />Gosto de como o adolescente é uma caricatura de si mesmo<br />é bonito isso, ter uma fé mais que religiosa em cada coisinha que atravessa a gente</div><div><br />Nessa imensa rede virtual eu só quero ler e ser lido</div><div>é isso: escrevo para encontrar as pessoas<br />e por acidente, como tudo na vida, ser encontrado <br />dar e receber palavra<br />só isso<br /><br />Mas sou hipócrita: deixo de ler, me afasto<br />deixo de escrever, me encasulo<br />morro sem palavra, faminto e talvez vaidoso</div></div>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-88460509625940920582022-06-13T17:36:00.002-03:002022-06-13T17:36:21.908-03:00Cais da Palavra <p>Além do desejo, chega o tempo de por a palavra também pra fora<br />são muitos os vômitos que nos embrulham pra logo depois desatar<br />O mar provavelmente foi o vômito de uma deusa <br />sopa primordial que povoa a terra de criaturas e quimeras <br /><br />Criaturas e quimeras emitindo sons do passado e luminescências <br />através de seus corpos e ossos transparentes <br />com olhos quase humanos nos encaram falando a verdade<br />a verdade plácida, quieta e inegável dos oceanos:<br />não se pode controlar fluxos e correntes <br />nem as marés<br /><br />Nesta noite existem peixes ao redor da lua, você viu?<br />Eles vão rodando como se estivessem numa bacia de aço que brilha no meio do mato<br />Eles nadam sobre as águas que saem dos nossos corpos<br />e de todos os outros corpos que um dia já nos atravessaram<br />nessa água tem suor, lágrima, sangue e gozo<br />e também um punhado de terra, areia e pedra de rio<br /><br />Um denso vapor vai saindo das virilhas úmidas e detrás das orelhas lambidas<br />se forma no ar uma névoa perfumada de mel e tabaco<br />orvalho que embaça todos os vidros<br />Neste ponto já estaremos cegos se tivermos sorte<br /><br />Todos os outros corpos que um dia já nos atravessaram<br />as pessoas que nos habitam e nos bebem<br />Elas estão aqui<br />paradas em fila atrás das bolas dos nossos olhos<br />como grandes cardumes voadores em aquários redondos<br />esperam por sua vez de falar através das nossas gargantas <br /><br />Nós, mergulhadores da mente, <br />através dos cortes sagitais e transversais<br />vamos nos abrindo como cirurgiões<br />cortando com a faca da razão <br />com o bisturi do sentido<br /><br />O que foi isso que o cérebro mais recente de homo sapiens sapiens, o telencéfalo, fez com a gente, ein? <br />Parece que nunca terminamos de dizer o que queremos <br />Seguimos esfacelados, partidos<br />como cacos de vidro polidos pelo bater repetido das ondas<br /><br />Que encruzilhada boba essa que nós, humanos, nos metemos:<br />sempre uma coisa por outra, <br />sempre uma imagem de frente pra outra, <br />sempre uma história por cima de outra <br /><br />O que diríamos nós mesmos ao nos depararmos com o mar, imenso mar, que passa dentro?<br />Vejo cavernas e monstros do Lago Ness, polvos gigantes <br />e cavalos marinhos brincando no neocórtex <br /><br />Nesta noite cada um dança o seu próprio temporal<br />Nesta noite o mar bateu na casca de ovo que é o mundo<br />e o mundo enfim acabou numa tromba d'água <br /> <br />A palavra então amanheceu<br />E desponta como um cais sob as águas todas<br />Olhamos assim as criaturas feitas de fantasia se alimentarem do confuso desejo humano <br />e de outros corais <br /></p>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-16039841875175835722022-05-07T19:56:00.000-03:002022-05-07T19:56:12.755-03:00<p> é sempre difícil voltar aqui na folha em branco, por isso eu demoro tanto</p><p>enfrentar as tantas pessoas que inventei pra ser eu mesmo, <br />tantas palavras pra me vestir e no final despir?</p><p>eu queria falar assim pra mim mesmo <br />"olha, não é nada disso, embora eu não saiba dizer mais nada" <br />como cantou o jards macalé </p><p>ó: eu só queria prosseguir de um jeito que minha cabeça acompanhasse o resto do corpo<br />sem essa sensação de desencaixe, de falta, de busca, do que poderia ter sido, do que não foi por pouco, do que foi por muito, do que não me dei conta, do que percebi demais<br /><br />só aceitar que o buraco existe, seja o da visão, seja o da cabeça <br />e que só resta sentir o que existe pra sentir <br />estar em contato com o que está ao redor:<br />como quem estica a mão e pega a maçã que alcança</p><p>eu quero descansar só um pouquinho:<br />sem ter que falar mais nada ou falando só o que tenho ali, disponível<br />Sem inventar moda, sem atribuir sentido, sem tecer (tantas) fantasias<br />choveu molhou, doeu gritou<br /><br /></p>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-15496487839043252662021-07-26T22:15:00.009-03:002022-05-07T20:06:47.217-03:00A Paz dos Tijolos<p style="text-align: justify;">Grande
poeira levantou quando o operário cortou um duto de concreto. Debruçado
sobre a ponte do rio periférico, eu vou ganhando com minha pouca visão o
aterro de obras. </p><p style="text-align: justify;">Eu não
consigo ficar indiferente aos materiais que desenham o mundo: asfalto, cimento, o plástico e
as pedras. Quando penso nas grandes máquinas que trabalham acabo por
pensar em todos nós. É como aquele sentimento de quem fica olhando pela
janela.<br /><br />Sinto a britadeira quebrando o chão e me entrego ao
tremor inevitável que não é apenas sonoro, mas faz vibrar o corpo todo, fisicamente. Quero estar assim para sempre: como se tivesse sido disparado pelo
apertar de um grande botão amarelo. Não mais pensar ou falar ou ter
razão, mas apenas sentir um rodar como um motor lubrificado em pleno arranque.
Potente, constante e cíclico como uma panela de pressão, ou como uma locomotiva que faz tchi-tchi-tchi-tchi-tchi<br /><br />Vibrar então inteiro, espalhando os tremores nas vigas de concreto armado de cada prédio da cidade, perturbar a paz singela de cada tijolo, de cada muro.<br /></p>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-1737523185511469432020-12-09T21:58:00.005-03:002020-12-09T21:58:59.652-03:00<p>Máquinas no meu caminho<br />abram a trilha, a rota, pros meus pés<br />com sua pá cheia de garras<br />raspem o chão de paralelepípedos<br />levantando fumaça e faísca<br /><br />os respeito e também me emociono:<br />única força que para o tráfego<br />coisa que nem chuva forte, nem corpo caído,<br />nem micro-organismo pode parar </p>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-33880332945009260052020-07-02T18:27:00.001-03:002020-07-13T18:00:56.959-03:00Faixa de PedestreSerá que o Drummond era ansioso? Sinto meu coração ansioso tão pequeno, incapaz de dar conta do mundo-grande, incapaz de enfrentar a máquina do mundo.<br />
<br />
Ineficaz ao enfrentar as brigas domiciliares, as disputas de território diárias nas ruas. Sempre amarelo e covarde o meu coração.<br />
<br />
Não, eu não nasci pra conquistar nada. Essa palavra é horrível: "conquista". Eu não sou afiado como o ponteiro da bandeira que se finca na terra e nos peitos dos outros e que também me atravessa.<br />
<br />
Me custa usar a força, o grito, o dedo levantado e o ponto final.<br />
<br />
Eu não quero ser chamado para apontar a verdade, para embasar uma opinião, para dar certezas. Sou altamente transigível.<br />
<br />
Todos os meus limites próprios parecem riscados à giz de professor em chão que só passa carro.<br />
<br />
Meus limites são faixas de pedestre que nunca secam e que as crianças destroem ao passar de bicicleta - sem nem perceber.Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-6066148568257267082020-05-28T14:44:00.001-03:002020-05-28T14:44:30.358-03:00Fluxo ser um fluxo de pensamento<br />
sem fim e começo<br />
atravessando seu corpo <br />corpo longitudinal, rostral, parietal<br />
inferior, posterior<br />
<br />
conduz minha cabeça em você?<br />
mas só de brincadeira<br />
só no jogo, amor-jogo<br />
morde, mas fraquinho<br />
<br />
Se eu quero saber? eu quero saber<br />
cansei de ignorar as pessoas<br />
ignorar quem são<br />
e o que sentem as pessoas<br />
<br />
Se tem algo que eu quero é saber quem é você <br />
<br />
quero saber. me conta também.<br />
coloca a mão no meu rosto<br />
e me olha todo, me atravessa:<br />
transversal, crânio caudal, dorso ventral<br />
<br />
conta a história do balanço na beira da estrada?<br />eu também quero demorar um pouco lá<br />
mesmo que é um lugar seu, só seu, tão seu<br />
a gente compartilha tão bem as coisas, não é? <br />
<br />
<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-28260302812660161632020-05-17T00:20:00.004-03:002020-10-28T22:21:03.661-03:00Cajado-espanador<p>as coisas todas convenientemente dispostas:<br />as pessoas organizadas em cima de uma mesa de madeira<br />
objetos-pessoas como cubinhos de madeira polida <br />
bem limpas e com as arestas dentro da normalidade geométrica<br />
das leis cartesianas <br />
<br />
se existe um contrário da conveniência <br />
eu imploro:<br />quero toda a inconveniência dentro de um cajado <br />
para carregá-lo e perturbar o que está definido, estabelecido, <br />normalizado <br />e cheio de pó<br />
<br />
</p>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-22434713798609569672020-02-08T18:01:00.002-03:002020-02-21T23:12:47.885-03:00O agora é o momento que tanto almejo<br />
porém não é fácil distinguir<br />
Estou no presente<br />
ou muito além no tempo?<br />
<br />
O tão sonhado momento<br />
onde a mágica acontece<br />
aquela mágica: <br />
tem estrelinhas piscando<br />
e barulhinho feliz repentino<br />
que toca feito despertador <br />e quase assusta o bem-aventurado;<br />
<br />
e tem casal abraçado na chuva<br />
e um campo infinito e verde para correr<br />
esvoaçante roupa colorida<br />
(e cartilagens macias nas rótulas nos joelhos,<br />pois o correr deve ser sublime)<br />
<br />
A felicidade é cafona.<br />
<br />
Por vezes passo frio <br />
sem camisa e o pé gelado <br />
não me dou conta<br />
pois quase sempre estive em outro lugar<br />
em outro tempo<br />
que não era o aqui<br />
<br />
Enlaçados ao porvir<br />
nós, os ansiosos<br />
tropeçamos em projeções<br />
inventamos futuro e passado:<br />
o ansioso é um pretensioso<br />
tirano do tempo<br />
<br />
Agora declaro que<br />
quero agora o meu agora!<br />
não me permitirei mais<br />
ser privado do momento<br />
<br />
Quero estar contigo <br />
sem pensar em qualquer rótulo que criei<br />
e que me escravizou<br />
<br />
Quero andar ao seu lado<br />
seja você amigo, amor ou anônimo<br />
ou tudo isso<br />
e estar ali, tão ali, tão ali presente<br />
até sentir pesar os ossos!Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-27578216348698359422020-01-06T21:14:00.000-03:002020-01-07T10:29:02.536-03:00acalantoai!, é cada tropeço em desnível de calçada<br />
é cada placa grande<br />
que não diz nada<br />
cada trombada, buraco,<br />
saco de lixo que parece cachorro<br />
cachorro que parece criança<br />
sombra que vira degrau<br />
degrau que vira muro<br />
<br />
mas já não tenho medo de escuro<br />
ou a pressa de enxergar<br />
nem vergonha do não-ver <br />
hoje só vivo o que tenho <br />
(obrigado psicóloga, ouço sua voz chamando "filipi,<br />
se assenhore de sua vida e da sua história!")<br />
<br />
e tenho:<br />
1/4 de visão<br />
meio olho que funciona<br />
um olho e meio que vagueia<br />
<br />
e tenho acalanto<br />
no ventinho que penteia o cabelo<br />
nas crianças da escola que me gritam na rua<br />
tio, tio, tio!<br />
em pessoas que me seriam impossíveis de encontrar<br />
se estivesse "preso na gaiola da visão", como disse o mestre <br />
<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-70533604116765423972019-12-26T11:40:00.002-03:002019-12-26T11:40:45.241-03:00Geil<a href="https://1.bp.blogspot.com/-7uoGz73w2_k/XgTGLvdoPGI/AAAAAAAAUkc/jhELBw2fupIqaUz3jHusf11IgLSL2K5jQCLcBGAsYHQ/s1600/nov%2B2019%2B%25281%2529-3.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1061" data-original-width="1600" height="212" src="https://1.bp.blogspot.com/-7uoGz73w2_k/XgTGLvdoPGI/AAAAAAAAUkc/jhELBw2fupIqaUz3jHusf11IgLSL2K5jQCLcBGAsYHQ/s320/nov%2B2019%2B%25281%2529-3.jpg" width="320" /></a><span>Viajei quase um mês sozinho por alguns lugares da Argentina.<br />Demorei a
postar algo sobre a viagem, pois ao mesmo tempo que foi sensacional
estar fora tanto tempo (pelo menos pra mim), também foi um processo
bem transformador e doloroso. Estar sozinho consigo mesmo em uma viagem
foi um exercício emocional bem complexo e que desencadeou várias emoções em mim.</span><br />
<span><br />Hoje mesmo, um mês depois da viagem, sonhei que estava em Córdoba.<br /><br />Geil,
este homem da foto, foi o primeiro personagem que marcou minha estadia
em Buenos Aires. Um senhor de 65 anos que deixou os EUA por ser muito
difícil viver lá com a sua pouca aposentadoria. Juntou dinheiro e veio para a América do Sul em busca de um pouco de dignidade - contava histórias terríveis das ruas da Florida.</span><br />
<span><br />Conversávamos muito
sobre tudo, sobre a vida, as expectativas... corações partidos. Um dia eu
perguntei à ele o que o fazia feliz. Pensou poucos segundos e
respondeu: tomar café bem quentinho. Depois disso todos os dias ele
passava um café e me dava uma xícara. <br /><br />Fiz esse retrato com minha
câmera e ele ficou muito surpreso. Disse que essa era uma das primeiras
fotos dele mesmo que havia gostado. Colocou de perfil no facebook. </span>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-80270649113361284122019-10-14T11:05:00.000-03:002020-03-01T22:42:12.296-03:00Por favor, motor<br />
Eu subi no edifício Martinelli,<br />
comprei uma lixeira de abrir com o pé em Santana<br />
me perdi na Parada Inglesa.<br />
Fui operado do apêndice na Voluntários da Pátria<br />
da retina na Cantareira<br />
do quinto metacarpo no Campo Limpo ou em Santo Amaro <br />
<br />
chorei em Jaçanã, Santa Luzia, São Thomé das Letras, Jardim Peri e Ubatuba<br />
<br />
então que se faça uma passarela na avenida de cada esquina<br />
de cada lugar<br />
para que os carros nunca parem de passar<br />
e enfim nos deixem em paz <br />
<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-61147919036613331152019-09-17T19:14:00.001-03:002019-09-19T19:45:44.591-03:00aos 27 anos<br />
renasço como observador<br />
pois todas as vidas são secretas<br />
<br />
os gestos dos outros:<br />
como bebem água, batem as cinzas do cigarro, se iludem<br />
transam e ficam aflitos, se conformam<br />
perguntam e respondem sozinhos<br />
<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-8650426112766895542019-07-10T09:24:00.000-03:002019-07-10T09:31:49.205-03:00Pampulha<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-HwUdVaNhRz4/XSXZzCwNRWI/AAAAAAAAQok/DJdvkBJ3azoGjhSOIoPELP8XTzSf5u-NgCLcBGAs/s1600/11.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="518" data-original-width="691" height="239" src="https://1.bp.blogspot.com/-HwUdVaNhRz4/XSXZzCwNRWI/AAAAAAAAQok/DJdvkBJ3azoGjhSOIoPELP8XTzSf5u-NgCLcBGAs/s320/11.png" width="320" /></a></div>
<br />
eu chorei tomando banho<br />
muito longe do nosso bairro<br />
pois foi onde e só onde achei espaço<br />
para caber tudo quanto se acumulou em mim <br />
<br />
esses anos todos só couberam<br />
nos 575 km que separam Jaçanã de Belo Horizonte<br />
e finalmente pude transbordar<br />
deixar tudo fluir na terra<br />
cair como água de um cano<br />
<br />
minhas lágrimas correm os encanamentos<br />
e espero que acabem na Lagoa da Pampulha<br />
nadando entre as garças e os jacarés<br />
<br />
assim deixo a minha mais verdadeira emoção morando em Minas<br />
uma das únicas coisas que tive certeza na vida<br />
esse amor que agora se liberta um pouco mais<br />
<br />
na minha frente meus amigos são um espelho: <br />
amor que ficou depois de anos<br />
penso que esse fio sempre vai estar aqui<br />
tocando como cordas entre nós que amamos um dia<br />
<br />
"Eu tenho medo mesmo é de não sentir nada"<br />
e é verdade<br />
esse fio faz chegarem as respostas<br />
para as perguntas mais necessárias <br />
<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-52648029761569426022019-06-20T02:16:00.001-03:002019-06-21T01:48:45.702-03:00Você é performance e tudo bemAntes mesmo de ter alguma idade para, eu já sonhava com o dia em que eu poderia ser nostálgico com propriedade. Olhar fotografias, cartas e lembrancinhas e assim me debruçar sobre uma época, pessoa e lugar. Lágrimas escorreriam e isso seria muito bonito. Sempre gostei de cenas montadas como essa, exageradamente emocionais e precisamente desempenhadas, com cenário, trilha sonora e tudo.<br />
Não é enganação ou falsidade de qualquer tipo. É teatro, personagem e brecha na rotina para que o sentimento aconteça com totalidade em sua grande hora. Palco e plateia é só o que qualquer sentimentozinho precisa. Finda a atuação as luzes apagam e só assim poderemos dormir outra vez.<br />
Vai me dizer você que, no alto da sua anonimidade, nunca planejou, ensaiou e executou uma cena, uma performance da vida real? Aquela discussão que precisou travar com uma pessoa amada, o dia que quis propositalmente ficar feliz ou triste só para sentir algo específico. Isso não é maquiavélico, é questão de percepção da própria narrativa, de se projetar no mundo. Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-55159125706565192482019-06-18T17:05:00.001-03:002020-09-19T00:15:54.492-03:00eu parei pra olhar uma grande máquina<br />que trabalhava algo nos canos da Sabesp<br /><br />fiquei bem do lado dela,<br />senti o motor que fazia tremer todo meu peito<br />e formigava as pontinhas dos meus dedos<br /><br />um cano da máquina jogava muita água no asfalto<br />água boa, sem cheiro<br />Dia muito bonito com aquele sol laranja<br /><br />fiquei pensando<br />nas engrenagens que nos movem<br />em tanta água que correu e correrá<br />nos nossos corpos<br /><br />olhei para o operário<br />e ele olhou para mim<br />com o olho de quem escuta<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-5231034818545982612019-05-19T17:00:00.003-03:002019-05-19T22:18:07.119-03:00Abraxasquero ver você sendo <br />
<br />
errando <br />
mas sendo<br />
colocando a mão no mundo,<br />
enfiando os dedos nas coisas<br />
e nas vidas das pessoas<br />
<br />
<br />
vai e grita assim:<br />
estou aqui <br />
existindo na corrente<br />
jogado no inevitável<br />
no avesso do controle<br />
Não sei porra, <br />
mas tô aqui de joelhos<br />
o peito rasgado de tão aberto<br />
<br />
e entregue<br />
<br />
entregue não num altar, não num lugar de santidades,<br />
mas num lugar de carne e osso, de suor e pedra<br />
um lugar de gente, de sêmen<br />
o cheiro de tabaco que mora atrás das orelhas<br />
<br />
esperando entrar pra dentro, ordenadamente, todo o caos:<br />
o toque da língua infinita do aleatório<br />
<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-34692078008998499362019-03-28T20:25:00.000-03:002019-03-28T20:25:51.460-03:00você me olha como aquelas pessoas limpinhas e alinhadas comprando um sofá<br /> em uma daquelas lojas com mil lâmpadas hiper fortes de centro cirúrgic<br />ah-ham, ah-ham, ah-ham... <br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-65093609553559246912019-03-04T12:32:00.000-03:002019-03-04T12:33:46.722-03:00atrito industrial<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dwJfa9-1OI5HLs3hqsrsYj6l0B-8dQSENohTLKlKJoABaPq90YBwXokoHJnfFBArTELp67xFgg51o6t_roDMg' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<br />
me corta igual máquina<br />
com os movimentos de 90 e 45 graus<br />
e o raio quente que sai de dentro da sua língua <br />
de cada dedo da mão <br />
e do pé<br />
<br />
nosso atrito é industrial <br />
<br />
<div class="text_exposed_show">
depois que eu estiver todo quadradinho<br />
recortado em você<br />
sem saber meu nome e onde estou<br />
só coloca minha cabeça no seu peito<br />
e deixa eu ouvir sua engrenagem batendo<br />
tec tec tec tec shhhh tec tec shhhhhh</div>
Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-65098462723519835712019-02-22T14:21:00.001-03:002019-05-22T19:28:53.539-03:00Olho de Réguaser uma pessoa contemplativa <br />
olhar como quem olha a paisagem, a fotografia<br />
nunca interpretar: só registrar e sentir o que há para se registrar e sentir<br />
<br />
<br />
ser justo consigo mesmo<br />
não exigir nada além do que pode ser medido na régua do justo e do cabível de cada situação, de cada olhar, de cada cigarro, de cada cabelo, de cada rua, de cada lugar, de cada cheiro, de cada gente e de cada pessoa<br />
nada mais além do que se mostra<br />
<br />
<br />
contemplação não é passividade <br />
mas estar atento nas janelas:<br />
do ônibus, das casas, dos trems e dos prédios lá longe com seus quadradinhos brilhantes<br />
e perceber os movimentos minúsculos da vida e dos corpos<br />
atento em tudo que esbarra em algo que está dentro de nós,<br />
sempre buscando o que faz cócegas atrás do nosso pescoço,<br />
aquela arrepiadinha do toque novo<br />
<br />Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-15561978363738029602018-12-05T01:33:00.000-02:002018-12-05T01:34:16.876-02:00somos malditos nós que não arrumamos nada<br />
não varremos o chão, não organizamos as velhas gavetas <br />
e nem arrancamos as pessoas das nossas vidas<br />
<br />
que vaidade ridícula<br />
<br />
somos delicadamente covardes; alheios<br />
nossas mãos tão macias e limpas<br />
incapazes de podar<br />
e assim viver na atmosfera saturada de uma estufa social<br />
uma confusão de plantas-gente, <br />
uma bagunça de pessoas-objeto espalhadas debaixo da cama<br />
<br />
e tropeçamos, de novo, até quando?Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-82492716531185475062018-08-31T20:32:00.001-03:002020-03-01T22:49:28.021-03:00Levanta-te<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Aos trinta anos entrou num bar qualquer e comprou seu primeiro maço de cigarros.</span><br />
<span style="background-color: white;">- Opa,
beleza?, - Beleza! e coçava a calva da cabeça ao passar os olhos pelas
marcas. Para melhor decidir pediu para ver um ou outro mais de perto.
Saltou um "CÂNCER!" em preto e amarelo de uma das embalagens colocadas
sobre o balcão. O atendente se desculpou, visivelmente embaraçado pelo
anúncio fúnebre e então virou a embalagem pra baixo rapidamente. Agora
sim o rótulo certo e que convinha: Lucky Strike, embalagem colorida.</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: white;">- Me
vê um desses, disse o aventureiro apontando para a caixinha. Caixinha
não! Maço. Tinha a segurança plástica dos amadores. Assertivo além da
conta e teatral. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white;">Isqueiro
já tinha, pois tudo foi antes planejado. Fumar um cigarro podia ser
coisa pouca, mas ser quem nunca se foi? Isso era um gozo completo. Ele
era uma pessoa das normatividades, do protocolo social e de comer uma
laranja por dia para não gripar. Ser outra pessoa, mesmo que fingindo, é o esporte preferido da humanidade, daí o ritual aqui descrito.
Impulso tardio de adolescente? Não, mas se sim, tudo bem, pois ele
sentiu a alegria de quem faz algo pela primeira vez depois de muito
tempo. </span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: white;"><span style="color: #cc0000;"><span style="color: black;">Para
conferir ar cinematográfico ao acontecimento, pensou em fazer a pé o
caminho usual do ônibus que o levava
do trabalho para casa. Tinha a mania de catalogar na cabeça lugares
comuns que passava no dia a dia e que, por algum motivo banal, gostava..
Até dava nomes diferentes para ruas, avenidas e prasças. "Rua das
Árvores" era o nome inventado desta onde agora estava.
Sabia que o nome era bobo e ria de si mesmo ao pensar nele.</span></span></span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: white;">De passo calmo ia estranhando o
volume quadrado e pontudo. Nesses bolsos nunca passaram nicotina,
alcatrão e outras 4.700 substâncias tóxicas. Pensar isso era excitante e
um bom começo para algo grandioso. Abriu o difícil lacre do maço com a
delicadeza de uma máquina industrial e colocou o cigarro entre os dedos
inábeis. Acendeu e sugou apertado como se fosse um canudinho. Tragou como
havia lido na internet ontem de noite: "Puxe e prenda o ar como se fosse
mergulhar dentro d'água, fazendo assim a fumaça preencher os pulmões".</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: white;">E
mergulhou. As mãos ficaram sem lugar certo, balançando como as de um
menino. Não sabia se pegava o cigarro da boca, se o deixava lá, se
colocava as mãos no bolso, se parava ou se continuava a andar. Nessa
pequena luta onde o corpo tenta se acostumar ao novo, foi fumando
repetidamente por vários metros. Voltou o cúmplice para polegar e
indicador. Parecia segurar um inseto vivo na ponta dos dedos. Bateu a cinza não se sabe com
que dedos, mas com tamanha força que a cinza explodiu no ar. Então a
luz do sol poente se encontrou com o mar de cinzas que reluziam como vidrinhos
coloridos. Refletiu-se toda a cena numa gota de orvalho inventada e uma pomba grunhiu e as
árvores chiaram: acontecia algo.</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: white;">Foi tomado de uma
sensação plácida e tonteante. Pensou que ia cair, pois a visão turvou um
pouco. Tibum! Sentiu-se inserido no momento presente, o coração batia conforme o ponteiro dos segundos e foitomado de uma
surpreendente consciência da pressão que seus pés exerciam no chão e das
marcas que sua vida deixava no mundo e nas pessoas. Então esse era o
efeito, o mundo se desacelerando. Sua tia, a clássica tia fumante, sempre falava ao ser
questionada dos porquês do fumo "-Não acontece nada, é só por costume".</span><br />
<span style="background-color: white;"><br /></span>
<span style="background-color: white;">Quem
passou os olhos até aqui percebe que a história caminhou com os
mais estranhos detalhes. Vejo-me então obrigado a relatar o desfecho inevitavelmente humano da mesma, mas antes rogo ao charuto aceso do psicanalista para que
coloque algum luz neste ocorrido. Desculpo-me, também, por não usar
termos próprios da literatura médica ou biológica, pois se o fizesse se perderia totalmente o sentido. Seguimos,
pois: Quando ele soprou a fumaça do último trago, viu se
desfazer a fumaça no ar. Algo o apertava por dentro. Olhou para baixo
num gesto de muita surpresa e percebeu que estava com o pau duro. </span></div>
Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-31906552198936900792018-05-09T22:24:00.001-03:002018-05-10T20:32:20.398-03:00A realidade nunca esteve entre nós<div style="text-align: justify;">
tem um sino batendo</div>
<div style="text-align: justify;">
e eu desço a rua chegando do trabalho. Penso como sinos batendo são old-school<i> </i>e por quê todo mundo gosta de tudo que é old-school. Duas senhoras conversam em tom de confissão e inconformidade. Minhas chaves estão perdidas na mochila de novo: marmita, blusa, sapato, fone, óculos, livro, papel de bala, isqueiro e chave geladinha na minha mão.</div>
<div style="text-align: justify;">
tem um sino batendo</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
vejo a casa do vizinho mais idoso da rua. Ele tem uma hortinha com couve e taioba e usa um chapéu. Velhinho de chapéu numa horta: é uma meta. Perdão, perdão! É que tem um sino batendo e tudo fica assim agora, muito romântico e lindo e plástico: o sol alaranjado do fim da tarde se junta às badaladas. Estou rindo de tanta cafonice junta, estou achando maravilhoso estar dentro deste cartão-postal. Queria ter agora uma trilha sonora barata e uma frase de efeito: "as badaladas da vida", "os sinos do porvir", "tem um sino batendo"</div>
</div>
Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5884374253231558158.post-74287668161567229942018-03-13T12:36:00.000-03:002018-03-13T12:36:01.420-03:00Do Verde ao Amarelo<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #fafafa; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: "Roboto Slab", "Times New Roman", serif; font-size: 14px; font-variant-ligatures: none; white-space: pre-wrap;">Quando os carros passarem sobre a faixa de pedestres, não me revoltarei. Esperarei indiferente e sem esperanças de um mundo que olhe a todos com igual consideração. Não denunciarei nenhuma injustiça, nem apartarei brigas. Já me sinto roer pelo embrutecimento das emoções. Apenas seguirei - sempre cego - os semáforos das coisas e das pessoas. Do verde ao amarelo, do vermelho ao verde. Obediente e infantil. A cada carnaval me sinto mais vazio dos confetes comuns, mais vazio de prazeres espontâneos. Vejo a senhora que vende pipoca colorida debaixo do sol e como sou egoísta com os meninos que pedem no farol: Não há solução para a vida.
</span></div>
<span style="background-color: #fafafa; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: "Roboto Slab", "Times New Roman", serif; font-size: 14px; font-variant-ligatures: none; white-space: pre-wrap;"><div style="text-align: justify;">
O emaranhado de pontas soltas se acumula ano após ano. Seria inocente esperar que o meu peito não derramasse pelo chão. Derrama, mas não faz sequer uma poça decente. Brevemente úmido como um punhado de terra cozida! Tudo o que despertar vida, cor e arte será banido de mim. Restará o prazer da labuta sem fim, da burocracia, do protocolo, do sistema e de chorar escondido no banheiro.
</div>
</span><span style="background-color: #fafafa; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: "Roboto Slab", "Times New Roman", serif; font-size: 14px; font-variant-ligatures: none; white-space: pre-wrap;"><div style="text-align: justify;">
Sinto que esqueci de tudo o que gostaria de fazer. Regulei tanto o meu modo de agir e ser, medi tanto cada palavra que falei, cada gesto! Fui omisso a mim e me perdi. Outro dia procurei a ponta da fita adesiva com a unha e acabei lembrando da minha história: onde larguei o primeiro passo de todos os meus sonhos? Fui tão alheio que me deixei levar. Covarde. Covarde! Flutuo sobre o grande e chato mar das sensações imediatas, dos prazeres fáceis. Incapaz de planejar uma excursão até a padaria da esquina, incapaz de dar cabo de qualquer demanda pessoal! Inapto para carregar o bilhete de ônibus, mas capaz de pensar sobre a cosmologia que deveria ligar tudo a todos e esses a todas as coisas do mundo.
</div>
</span><span style="background-color: #fafafa; color: rgba(0, 0, 0, 0.87); font-family: "Roboto Slab", "Times New Roman", serif; font-size: 14px; font-variant-ligatures: none; white-space: pre-wrap;"><div style="text-align: justify;">
Fecha o semáforo novamente. O mundo volta invicto com a mesma força das máquinas calculadoras: inquestionável, invencível. Aparece na minha frente, o mundo e nos olhamos um ao outro. Mesmo com toda essa tímida poça de alma que escorreu pelos meus pés, a ordem social me faz atravessar a avenida.</div>
</span>Felipe Cellinehttp://www.blogger.com/profile/12497457996537873750noreply@blogger.com3