19/11/2010

Liberdade a Dois

 
Liberdade a dois é um estado de espíritos; namoro é contrato formal, chato, cheio das quebras.
Liberdade a dois é ter o direito de rir das próprias idiotices; é lamber a amargura que o outro lhe derrama e dar um sorriso sacana; é poder ser e deixar o outro ser sem medo; é se deliciar nos passos do outro, como uma dança: Apenas movimentos e sensações, sem ganhador nem perdedor.

Liberdade a dois é, sobretudo, olhar para o outro como se ele fosse sempre uma libertação e nunca uma prisão voluntária. Vemos tantos relacionamentos baseados na lei do controle, na lei de quem poda mais o outro, de quem se acorrenta mais.

Liberdade a dois é como se fossemos estradas infinitas que se cruzam bem no ponto do amor. Estradas que podem se distanciar o quanto quiserem, mas sempre vão ser uma só encruzilhada.

16/11/2010

Poeta

poeta (é)
(latim poeta, -ae)
adj. s. m.
1. Que ou aquele que sente e sabe que sente
2. Aquele que consegue se encharcar facilmente na essência de todas as coisas.
3. Que ou quem devora emoções e sensações.
4. Pop. Vagabundo.
Feminino: poetisa.

12/11/2010

Do Garoto Que Não Sabia Se Apaixonar


Não era um garoto da cidade. Vinha do campo, dos chãos de terra batida para os chãos de terra abatida. Em menos de dois meses pode perceber que tudo era muito avassalador na cadência da cidade, principalmente as garotas.
Quantas paixões! Elas estouravam como as espinhas recém chegadas em seu rosto tão jovem, tão fresco. As espinhas ele podia entender e já nem se assustava quando apareciam, mas as paixões... Ah! Isso ele não podia conceber nem teorizar.
Começava com uma ansiedade que o atacava no meio da tarde, como se um mosquito vagasse dentro de seu peito. O coração parecia cavalo a galope e as mãos ficavam inquietas e suadas. Era ela, a paixão, que anunciava seus sinais. Então não olhava muito para os olhos das pessoas, pois tinha a certeza que perceberiam. Parecia tão óbvio!
Não demorava ser atacado também logo ao acordar, com a imagem daqueles dois olhos cor de tempestade na mente. Os sintomas pioravam rapidamente e então rolava de um lado para o outro da cama sem conseguir dormir. Na mesa de café da manhã seus olhos vagavam no nada e mal sentia fome.
Seria isso a paixão? Tinha que fazer algo, mas o quê? Ele já tinha visto nos filmes que o romântico se dava mal, que o mocinho era desprezado pela moça e só ganhava um beijo no final, depois de ter tomado alguns tiros. Sim, ele sabia o que tinha que ser feito, algo mais dolorido que tiro: Era entregar-se sem ceder, puxar e empurrar, dar sem dar. Como doía! Ah... Como doía!

10/11/2010

Sobre Vacinas e Olhos Acanhados

Você é uma garota toda vacinada e eu sou um cara cheio dos remendos. São diferenças sutis.
Talvez toda essa vacina e todo esse remendo sejam coisas totalmente desnecessárias. O pior é que sabemos disso – ou deveríamos.
Tuas vacinas correm no teu sangue e meus remendos são tão antiquados. Você usa relógio no pulso e eu só me perco nas horas; nas tuas horas!
Acontece que naquela noite nublada parece que havia uma parede de vidro entre nós. Adoro quebrar paredes, mas tive receio que algum estilhaço te cortasse e não queria sujar seu rosto com as mãos rasgadas. Num relance eu vi seu olhar através do vidro frio e embaçado. Teus olhos me pareceram duas portas entreabertas tão imponentes e convidativas.
Aliás, teus olhos! Que são essas duas pedras negras? Teus olhos me puxam e ao mesmo tempo me empurram. É como se estivesse bêbado no meio dos seus mares; cada olho um oceano.
Desbravar teus mares, te arrancar desse seu passado vilão com um sopro só, mas você mora tão longe! Arrancaria essa parede, abriria essas portas que são teus olhos, me sentaria à mesa de seu salão secreto e acenderia a lareira, pois os tempos andam frios.
Então não existiria mais vacina, passado ou remendo. Haveria vinho, haveria chama, haveria nós.

Andar, Andar


Eu ando por aí fingindo ter aonde ir. Ando de passo breve, como se tivesse algo importante a fazer; como se corresse atrás de um propósito real, um sonho incerto.

Ando sem destino como se fosse encontrar alguém que eu ainda não conheci. Já me sinto até um pouco atrasado... uns anos talvez.

06/11/2010

Texto Que Não Existe

Cabelos pretos, ela vem e senta em cima da minha mesa, sorrindo faceira; não me deixa escrever. Sou praticamente obrigado a largar a caneta e a folha, que voa para o chão, começo a rabiscar em sua pele com as tintas de um beijo e cada dedo vira um pincel dançando bêbado nas curvas desta fabulosa tela branca de olhos negros.
Rabisco em idiomas que não existem, com palavras que não devem ser e que nunca foram inventadas. Ela parece não se importar muito com a gravidade dos idiomas ou das palavras, pois continua com aquele sorriso meia lua e os olhos cerrados, como se imaginasse as histórias que conto no papel de seu corpo.

Literal

Ando meio literal demais esses dias:
Vejo sorrisos no rosto das moças
e acho que elas estão felizes