21/10/2014

Outros Deuses

E você vem me falar que tinha um cabelo no seu hambúrguer?
Eu venerei a dúvida e outros Deuses piores que a dúvida.
Eu, produto de uma soma torta, de uma equação sem raízes, eu gritei: A vida é uma provocação! PRO-VO-CA-ÇÃO.
Eu, moldado por uma visão imperfeita: sequestrado por um olho que não enxerga e por outro que insiste em enxergar, mas dá trabalho; um olho único que venera também a dúvida de funcionar, que tem medo de levar pedrada - seja física ou imaginada.
Eu mesmo, Felipe Celline. Eu fui lá e tirei fotos, eu fui lá e olhei tudo o que tinha pra olhar, escrever tudo o que tinha que escrever e o que não tinha... eu inventei! "Vidi Vini Vinci" é o caralho. Eu quero vencer sem ver nada. Eu quero passar a mão na vida. Quero tocar, bem pertinho, a vida.

Eu quero é comer o cabelo, o hambúrguer e a borda da mesa! Quero morder uma rua inteira;
quero lamber vidas inteiras de uma vez só.

14/10/2014

Antropocertos

Sempre eles e nós. Nós nunca somos eles, ai de nós! A gente se divide: são as pessoas do outro trem, da outra rua, de outro estado. São sempre eles, eles! e nunca nós. São os viados, as putas, os travecos, os caipirias, os negros, as mulheres, os favelados, os vagabundos, os bêbados, os loucos, as mal comidas, os mal amados, é falta de sexo, é nariz empinado, é feito de trouxa, é burro, é inteligente mas tem bafo, é imoral, é vil, é depressivo, é triste, é meio assim estranho - sempre os outros, sempre eles. Nós não.
Não se mistura assim, a gente pensa - não se faz isso, tem que tomar cuidado pois ser corrompido é fácil. Somos diferentes e não somos aquilo; somos outra coisa (coisa... sim, outra coisa). Acontece que uma hora nós viramos um eu-sozinho - depois de tanta particularidade e tanto diagnóstico da vida. Seguimos as prescrições certinho. Depois de tanta regra criada para uma amizade, um romance, um emprego, uma família, uma saída ao milk-shake para conversar! Que grandes muros são esses que construimos diariamente! Ora, que é a vida, ein? E mais: Que é o medo da vida.
Então pergunto e tento: Grandes reis sempre são mostrados dentro de castelos murados e protegidos em tronos maciços. Tudo tão sólido! Por que acreditamos ser reis na vida - príncipes, tantas vezes? Não temos tijolos, muros ou pontes levadiças. Olho para minhas mãos e vejo só um punhadinho de areia e as pessoas que me cercam também: Tentando conter nas mãos a areia tão seca e esvoaçante.
O que um rei poderia fazer com um punhado de areia? Imagina que desesperador para homem tão nobre: Castelinhos de areia , para usar a metáfora tão clichê dos castelos de areia destruídos - coisa que não me preocupa usar mais num texto ou numa vida (tanto faz), pois, ao perceber o quão incerto é o meu punhadinho de areia já não me preocupo com a erudição textual, gramatical e seja lá o que for. Não consigo mais ser sério em algo sem me achar tolo.
andarilho da vida - príncipe jamais de novo.