10/11/2010

Sobre Vacinas e Olhos Acanhados

Você é uma garota toda vacinada e eu sou um cara cheio dos remendos. São diferenças sutis.
Talvez toda essa vacina e todo esse remendo sejam coisas totalmente desnecessárias. O pior é que sabemos disso – ou deveríamos.
Tuas vacinas correm no teu sangue e meus remendos são tão antiquados. Você usa relógio no pulso e eu só me perco nas horas; nas tuas horas!
Acontece que naquela noite nublada parece que havia uma parede de vidro entre nós. Adoro quebrar paredes, mas tive receio que algum estilhaço te cortasse e não queria sujar seu rosto com as mãos rasgadas. Num relance eu vi seu olhar através do vidro frio e embaçado. Teus olhos me pareceram duas portas entreabertas tão imponentes e convidativas.
Aliás, teus olhos! Que são essas duas pedras negras? Teus olhos me puxam e ao mesmo tempo me empurram. É como se estivesse bêbado no meio dos seus mares; cada olho um oceano.
Desbravar teus mares, te arrancar desse seu passado vilão com um sopro só, mas você mora tão longe! Arrancaria essa parede, abriria essas portas que são teus olhos, me sentaria à mesa de seu salão secreto e acenderia a lareira, pois os tempos andam frios.
Então não existiria mais vacina, passado ou remendo. Haveria vinho, haveria chama, haveria nós.

3 comentários:

  1. Ah! Os olhos! Você tem razão! Não fosse eu mesmo prevenido, adoeceria todos os dias, na visão de alguns olhos alheios!

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  2. Deve haver nos olhos negros, mais do que a beleza da alma que se pode ver através das pupilas,algo que açoite os homens -como nós- mesmo quando estes olhos estão fechados.

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  3. Falar dessas gotas de alma ainda é um mistério, muito convidativo...
    Adorei o texto, assim como os outros...
    Posso não comentar, mas sempre leio todos...
    Parabéns!

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