18/11/2009

Maçãs


"Sofro, mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar..."

Raul Seixas - A Maçã



Não é mágoa, menina. Não. Nem ressentimento. Explico:
Quando se morde uma maçã que parece bem suculenta e sente-se na própria boca um inesperado suco de podridão, que vem do interior da fruta, é inegável e impossível não fazer uma cara de repulsa natural. E depois do nojo vem a exclamação: Num reflexo tão instintivo quanto a repulsa, joga-se a maçã ao longe. E assim foi.
Mas não culpo a maçã! Ai de mim! Não se pode culpar a maçã; O mundo é que a apodreceu por dentro, e por fora se criou a casca do orgulho, de uma beleza mascarada e volúvel, para enganar as bocas afiadas que a mordem; para protegê-la dos sentimentos reais, que tanto machucam! Ah! Maçã orgulhosa trancada no próprio lodo!
Você foi essa maçã. Maçãs foram feitas para encenar histórias de contos de fada! Maçãs mágicas que salvam vidas, outras envenenadas e ainda assim parecem todas iguais. Mas veja bem: só encenação, cuidado. O homem bem sabe o que acontece quando se morde uma maçã irresistível! Ah, Adão, tolo você de ter mordido antes de saber o que vinha dentro! Tolo!

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