08/11/2009

Milongas do Velho Preto

O preto curvado sai caminhando no chão de terra batida e senta no banquinho devagar, pois as pernas já são fracas. Suas rugas e seu cachimbo estão recheados de histórias.Com a mão trêmula alisa a barba branca, enquanto os mais jovens sentam-se no chão, em silêncio. Seu olhar é ancestral e penoso, mas não deixa de ser alegre. Todos esperam ansiosos.
Com as primeiras tragadas de cachimbo as velhas histórias começam a flutuar no ar, penetram os corações com as palavras humildes. Até os filhos do senhoril – filhos brancos, criados ao molde europeu, cheios de preconceitos – estão debruçados na janela do cativeiro, curiosos, enfeitiçados pelo conto.
Agora já não há cor de pele, nem diferenças, nem talheres de prata, nem casarão, nem etiqueta, nem nada. Ali só se via humanos, sentindo como humanos e vivendo coisas reais através das palavras gastas e arrastadas do preto-velho.
O velho foi deitar-se na cama de palha, satisfeito; Naquele dia alguma coisa mudou. Saíram todos dali meio abalados, todos quietos com os próprios pensamentos; Saíram dali de olhos baixos, com vergonha.
Estavam aprendendo a ser verdadeiramente humanos.

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