29/12/2009

Sobre Poltronas Nostálgicas

Não que uma poltrona substituísse os braços cheirosos e macios de uma mulher, mas aquela até que cumpria bem o seu papel, abraçando e acolhendo de bom grado o homem amargurado, que pelas tardes se sentava ali fingindo ler o jornal enquanto só pensava nublado.
Nesse clima eterno de inverno passaram-se anos e a barba do homem já começava a apresentar alguns poucos fios brancos, ainda acanhados em sua face. A poltrona continuava lá, imponente, encarando o homem e deixava-o constrangido, pois atestava todas as suas dores.
Foi numa tarde como qualquer outra que o homem amargo decidiu não fingir ler o jornal; nem sequer o levou para a sala, simplesmente sentou-se na poltrona e olhou para frente. Espantou-se a princípio com o que viu: Uma janela. Quase tinha esquecido da velha janela!
Num desses impulsos típicos de criança, levantou-se e olhou através. Sem hesitar, abriu-a. Viu a rua, as vidas e seus donos passando pela calçada, crianças que brincavam com o verão. Então olhou para a casa da frente e seu lindo jardim; Olhares se cruzaram e então ouviu quase como uma profecia:
-Bom dia! – Numa saudação elegante, com um sorriso daqueles que contam tudo o que se precisa saber.
O sol se fez presente nos dois pares de olhos. Nunca mais usou a poltrona.

4 comentários:

  1. sinto falta de conversar com você e debater sobre tudo.
    e seus textos permanecem fortes, reflexivos e... extremamente você.

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  2. PArabéns! Tenho que dizer que escreves muito bem mesmo. Sempre que posso lhe faço uma visita por aqui.
    Um Grande Abraço!

    Carval

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  3. se você quiser um toque de Dalton Trevisan aqui, adiciona um parágrafo descrevendo a poltrona decadente depois de jogada fora.

    mas assim tá bom, é bem você mesmo. não tão trágico quanto eu e minhas referências, ahuahuha

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