08/11/2008

Perda Irreparável: A Saga de um Pequeno Suicida

Era uma tarde de sábado, com aquele sol irritante e ruas cheias. Eu estava saindo de casa, para ver minha garota.
Então peguei uma bela fila no metrô e não tão logo assim entrei em um vagão. Como me é de costume, resolvi pegar um livro (que sempre levo comigo) para ler durante a viagem. Antes que eu pudesse abri-lo, tive um mau presságio seguido de um terrível arrepio. Comecei a suar frio, mas logo passou, então ri-me do susto bobo, que logo seria atribuído a alguma causa infundada.
O trem começou a deslizar sobre os trilhos, com seu barulho profundo. Então, definitivamente decidi pegar o livro para ler. Peguei-o com as duas mão, e meu intento era abri-lo como sempre faço: Usar a palma das mãos para apoia-lo e os meus polegares oara abrir no capítulo em que parei.
Mas assim que fiz o mínimo movimento com as mãos, algo um tanto ridículo aconteceu: Meu polegar direito caiu no chão e rolou pelo vagão, devido ao movimento do trem.
Ninguém viu meu dedo opositor rolando pelo chão: As pessoas estavam ocupadas demais para socorre-lo. Quase que uma senhora pisa em cima do pobre dedo, que escapou por pouco, quando foi chutado acidentalmente por algum outro pé, de sapatados engraxados.
Eu não pude fazer nada. Não pude levantar levantar para agarrar de volta meu querido dedo, pois havia uma moça ao meu lado, impedindo minha passagem com suas pernas. Sou muito envergonhado, não conseguiria pedir licença, nem pedir a alguém para pegá-lo para mim.
Quando finalmente a moça se levantou, estive livre para passar. Ao me aproximar do dedo desertor, o impacto do trem parando o fez rolar para os pés de um pequeno garoto, que pegou-o e pôs na boca, roendo minha unha. Estava com a mãe, mas esta estava se maquiando e não viu.
O mais horripilante de tudo isso é que eu ainda sentia tudo o que se passava com o meu polegar, como se ainda estivesse em minha mão e fizesse parte de mim.
Pensei seriamente em arrancar meu tão útil dedo opositor da boca daquele garoto, mas achei melhor evitar um escândalo. Além do mais, o garoto parecia tão entretido em sua brincadeira que não me senti no direito de pará-lo.
Esperei algum tempo, com a esperança de o garoto largar meu dedo pelo chão. Isso aconteceu quase que simultaneamente com as portas do trem se abrindo. Dei-me conta que já estava na estação em que deveria descer.
Encontrei-me em uma terrível escolha: Ou pegava de volta meu dedão ou desembarcava na estação certa, para seguir meu caminho normalmente. Não pensei duas vezes: Quando o sinal de fechamento das portas soou, saí correndo e consegui passar pelas portas por um triz. Quase perco minha estação. Daria um grande trabalho desembarcar em outra e voltar a pé.
Hoje vivo sem o polegar direito. Continuei sentindo tudo o que se passava com ele por terríveis 6 meses, e isso acabou quando moscas ou peixes o comeram por inteiro. Creio que foi isso que aconteceu pelas dores que senti, que pareciam pequenas mordidas.

6 comentários:

  1. eu ainda acho que deveria continuar essa história.

    "como se ainda estivesse em minha mãe .."

    erro de digitação! pém pém

    ;*

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  2. rsrsr adorei...gosto de bizarrices inteligentes ( e "bizarro" pra mim é elogio) rsrs...

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  3. ahhh e se é uma "saga" deveria mesmo ter continuação rsrsrs...o título foi um achado ..rs

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  4. Oi, Felipe!
    Q bacana essa história! A descrição é mto divertida do trajeto q o dedo fez! Adorei!
    Parabéns!
    Bjos da sua colega de oficina

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  5. Caraca... isso é que é dedo viajante... me lembrou uma mistura da história da bailarina e do soldado de chumbo e uma parte do alice no pais das maravilhas... mas ficou muito bacana... parabens
    Will.
    o outro quase cabeludo....rs

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