28/11/2008

Rua das Palmeiras, 102, São Paulo - SP, Brasil /


Olá Luísa. Tudo bem?
Espero que sim.

Não se assuste com o remetente desta carta, eu realmente estou na Itália.
Não se faça de desentendida... Não finja uma falsa surpresa, Luísa. Não estou vendo seu rosto enquanto lê. Sem máscaras; não há mais necessidade de usá-las, não há a quem enganar.
Eu descobri tudo. E já faz um tempo. Só estava esperando meu passaporte sair.
Tomei a liberdade de pegar meus discos da Billie Holiday, mas acabei esquecendo (de propósito) os discos do Bee Gees e algumas cuecas, que julguei velhas.

Creio que meu desaparecimento repentino tenha lhe causado surpresa.

Enquanto eu deslizava pelas estreitas ruas de Gênova, numa velha e agradável bicicleta alugada, pude sentir toda a liberdade que me foi privada durante esses anos; anos de seu falso ciúmes, e de minha mania de tentar ameniza-lo com meu romantismo.
Passando por Roma eu pude admirar o Coliseu, imponente, mas já gasto pelo tempo, com algumas partes despedaçadas. O seu formato redondo lembrou a nossa aliança, que está na segunda gaveta do criado-mudo. Pode ficar com ela.
Aproveitei para visitar a Fontana Di Trevi. A beleza das estátuas que adornam-na é hipnotizante! Joguei algumas moedas para fazer desejos, como é de costume nesta fonte. Uma das moedas joguei em seu nome, desejando que tenha uma vida feliz.
Escrevo esta carta em Veneza. Estou em um restaurante móvel que flutua sob o Canal Grande. Não é a toa que dizem que Veneza é romântica! Os passeios de barco incitam o verdadeiro romance e o cheiro da comida lembra paixão e calor, coisas que eu sempre procurei e continuo a procurar.

Estou pronto para começar tudo de novo.
Sem você.

Adeus, Luísa
Vítor.

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