Encontrei com ele na sala de espera do centro cirúrgico de um hospital oftalmológico.
Jovem bonito, gentil e tinha um sorriso tão branco, tão largo e espontâneo que eu me surpreendi ao perceber que ele era praticamente cego:
- Enxergo dez por cento, mais ou menos – ele justificou ao sentir o meu espanto, mas manteve o sorriso e me olhava fixamente.
Aqueles olhos brilhavam; eram os olhos mais vivos que eu talvez já tenha visto. Fiquei pensando como tantas pessoas que enxergam na sua totalidade não conseguiam manter aquele brilho, aquela vida dentro dos olhos; era uma chama.
Falamos sobre música e mulheres e nossos problemas no olho e demos boas risadas; Ele com seus dez por cento e eu me sentindo até arrogante por ter sessenta por cento e reclamar tanto. Senti vergonha.
A enfermeira chegou para levá-lo à cirurgia e então ele se despediu, brincando jocoso:
-A gente se vê!
Eu sorri e concordei. Sabia que aquilo era verdade; Nós veríamos sempre, mesmo com os olhos tão remendados e talvez até fechados.
Nesse dia eu percebi que a cegueira é algo que vai muito além dos olhos... e a visão também.
o bom da independência entre olhar e ver é que podemos ver sem olhar. a ruim, é que olhamos sem ver o tempo todo
ResponderExcluirÉ a cegueira da Alma que sabota o nosso viver.
ResponderExcluirPodemos enxergar um mundo novo quando abrirmos realmente os nossos olhos. Difícil, né?!
Abraços!
Você vê melhor do que eu.
ResponderExcluirNa verdade acho que vemos com os olhos errados.
ResponderExcluirA visão vem da alma, é produzida na alma. Os olhos só são instrumentos mais ou menos úteis, assim como qualquer instrumento.
ResponderExcluirMas do que adianta ter bons instrumentos sem ser um bom músico, até péssimo às vezes? Um ótimo músico faz maravilhas com um instrumento medíocre.
A alma é o músico.