03/02/2011

O Marinheiro


Por que choras, marinheiro? O mar já está cheio por demais dessas gotas tão salgadas!
Nos dias vives parado nas pedras do porto, e como isso não bastasse, nas noites se apóia no Grande Farol com sua garrafa de vinho quase vazia e as velhas cartas desbotadas na mão. Giras os olhos como se fosse o próprio velho farol; Procuras algo... Mas o quê, marinheiro?

Ah, marinheiro! Vejo que continuas aqui e tuas olheiras já me parecem mares inteiros... Onde já se viu marinheiro com coração de poeta? Teus convivas já zombam de ti e dos apelidos tens os piores! Toda a marujada bebe nos cabarés da cidade e você ainda aqui, homem salgado?

Já destes nós tão firmes nas velas, sobrevivestes aos tombos do navio e à peste, pelejou nos saques e... e agora isso? Que é isso que te mordeu que já não comes, não dormes nem sonhas?

Onde está o punho vigoroso, os músculos impregnados de mar? Por que teu coração não enferrujou como os de tantos outros marinheiros que, vencidos pela maresia, esquecem-se dos olhos amendoados, das pernas quentes e, acostumados à solidão, partem para não se sabe onde?

Ame as ondas com suas espumas e a lua bêbada das noites e as nuvens que pendem no céu oceânico – no máximo – mas, ai de ti, marinheiro! Como ousas amar aqueles cabelos, aqueles dentes tão frescos? Como queres trocar o balanço de teu navio pelo embalo de uns braços de seda?

O teu navio! Olha, ele já vai partindo; E, qual teu nome, formidável marinheiro?
Como? Não te lembras?

-É Marinheiro... Marinheiro só.

2 comentários:

  1. Cheguei a pensar que tu andou sem tempo e copiou um texto que tu gostasse. Mas não foi, foi talento.
    Se eu mereço um livro, tu merece dois, cara. Abraço

    ResponderExcluir
  2. Nossaaaaaa, que lindo!!!! Magnífico, Marinheiro. Parabéns.

    (:

    ResponderExcluir