Eu? Eu vivo na corda bamba do dia que não veio
e existo no sorriso que não brotou.
Talvez eu seja mesmo tudo o que nunca aconteceu:
há dias em que me olho no espelho e vejo aquele quem não fui.
20/02/2011
09/02/2011
O Drama de Jonas
(Ao amigo Rubem Rocha)
Jonas era um garoto que colecionava xícaras. Porcelana, vidro, coloridas, Rei Leão, Tarzan.
Um dia Jonas quebrou uma xícara. E outra. E outra. E quebrou todas e chorou, pois naquele dia Jonas não conseguia entender.
Não tinha encontrado o café em cima da mesa, mas sim sua mãe, com os olhos abertos e frios como xícaras de café amanhecido, tombados no chão da cozinha.
A colher ainda na mão e o pote de açúcar tombado. O chão parecia um estranho mosaico.
Então Jonas pegou os seus extraordinários oito anos de vida junto com seus cacos coloridos (não os de xícara, mas agora os do coração) e teve que seguir.
Nunca mais conseguiu tomar café; não com os olhos secos.
Um dia Jonas quebrou uma xícara. E outra. E outra. E quebrou todas e chorou, pois naquele dia Jonas não conseguia entender.
Não tinha encontrado o café em cima da mesa, mas sim sua mãe, com os olhos abertos e frios como xícaras de café amanhecido, tombados no chão da cozinha.
A colher ainda na mão e o pote de açúcar tombado. O chão parecia um estranho mosaico.
Então Jonas pegou os seus extraordinários oito anos de vida junto com seus cacos coloridos (não os de xícara, mas agora os do coração) e teve que seguir.
Nunca mais conseguiu tomar café; não com os olhos secos.
03/02/2011
O Marinheiro
Por que choras, marinheiro? O mar já está cheio por demais dessas gotas tão salgadas!
Nos dias vives parado nas pedras do porto, e como isso não bastasse, nas noites se apóia no Grande Farol com sua garrafa de vinho quase vazia e as velhas cartas desbotadas na mão. Giras os olhos como se fosse o próprio velho farol; Procuras algo... Mas o quê, marinheiro?Ah, marinheiro! Vejo que continuas aqui e tuas olheiras já me parecem mares inteiros... Onde já se viu marinheiro com coração de poeta? Teus convivas já zombam de ti e dos apelidos tens os piores! Toda a marujada bebe nos cabarés da cidade e você ainda aqui, homem salgado?
Já destes nós tão firmes nas velas, sobrevivestes aos tombos do navio e à peste, pelejou nos saques e... e agora isso? Que é isso que te mordeu que já não comes, não dormes nem sonhas?
Onde está o punho vigoroso, os músculos impregnados de mar? Por que teu coração não enferrujou como os de tantos outros marinheiros que, vencidos pela maresia, esquecem-se dos olhos amendoados, das pernas quentes e, acostumados à solidão, partem para não se sabe onde?
Ame as ondas com suas espumas e a lua bêbada das noites e as nuvens que pendem no céu oceânico – no máximo – mas, ai de ti, marinheiro! Como ousas amar aqueles cabelos, aqueles dentes tão frescos? Como queres trocar o balanço de teu navio pelo embalo de uns braços de seda?
O teu navio! Olha, ele já vai partindo; E, qual teu nome, formidável marinheiro?
Como? Não te lembras?
-É Marinheiro... Marinheiro só.
02/02/2011
Ela Odeia Blues
(Ao Anônimo)
É a dona das minhas olheiras e
manhãs dilatadas;
talvez por isso a garrafa de café
quase sempre vazia
e umas pernas tão, tão brancas que dão até vontade de morrer
com a cabeça lá
no meio
e o Blues vai tocando
junto com a gente
mas dessa vez ela nem se importa ou reclama
pois sorri faceira
e nua
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