28/10/2008

Máquina de Escrever


A máquina de escrever cheira a literatura, carregada de significado com suas teclas gastas, mas sempre recentes, esperando para serem expostas num magnífico romance ou suspense. O barulho das teclas soa como a poesia, e retumba até o teto deste quarto sujo, fazendo zig-zagues e despertando do sono cada neurônio jovem e curioso; cada neurônio idoso, que se esforça para relembrar antigos tempos.
As suas teclas formam as palavras. Todas elas estão ali. Me convidam a escrever, relatar e dizer-lhes tudo, dando ao final de cada linha, um belo e sonoro 'plim!' aprovando minhas idéias tolas, ou apenas negando-as, sendo educada e cordial, não querendo discordar de mim; que bela dama. As letras batem com força no papel -fap, fap, fap-, que gira, contorna, vai e vem, num ritmo quase erótico; a linha entre o prazer de escrever e o amor à leitura.
Agora, saturada das metáforas, cospe as folhas de papel, e se recusa a escrever outra vez. Não quer me servir, fria e cruel senhora das letras; já cansada. Ignora as palavras que meus dedos gotejam, fazendo delas todas apagadas e disformes, desalinhadas e sobrepostas. Me nega sua fita de tinta e suja todos os meus dedos em evidente objeção.

3 comentários:

  1. máquina de escrever, ventiladores velhos de teto, abajou, e tantas mais coisas são inpiradoras e noir, lembram um escritor tipo Neruda num quarto cinzento tentando escrever...Ele teve ter passado por isto e hemingway também...rsrs...

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  2. Por que certas coisas antigas despertam um sentimento de... de... não sei bem explicar?!? Nostalgia?!? Saudades?!? .......

    Máquinas de escrever tinha aquele "quê" de não poder errar... hehe... pior que eu peguei o tempo destas, o finalzinho, mas peguei...

    Um abraço, "Guri", se cuida...

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  3. Curioso mesmo esse encanto q sentimos pelas máq. de escrever e seu barulhinho... Dia desses, numa feira de artesanato, comprei uma réplica (quase perfeita) de uma Remington, só q tem ReNington gravado e as teclas em ordem não convencional, digamos assim! rs

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