09/05/2018

A realidade nunca esteve entre nós

tem um sino batendo
e eu desço a rua chegando do trabalho. Penso como sinos batendo são old-school e por quê todo mundo gosta de tudo que é old-school. Duas senhoras conversam em tom de confissão e inconformidade. Minhas chaves estão perdidas na mochila de novo: marmita, blusa, sapato, fone, óculos, livro, papel de bala, isqueiro e chave geladinha na minha mão.
tem um sino batendo
vejo a casa do vizinho mais idoso da rua. Ele tem uma hortinha com couve e taioba e usa um chapéu. Velhinho de chapéu numa horta: é uma meta. Perdão, perdão! É que tem um sino batendo e tudo fica assim agora, muito romântico e lindo e plástico: o sol alaranjado do fim da tarde se junta às badaladas. Estou rindo de tanta cafonice junta, estou achando maravilhoso estar dentro deste cartão-postal. Queria ter agora uma trilha sonora barata e uma frase de efeito:   "as badaladas da vida", "os sinos do porvir", "tem um sino batendo"

2 comentários:

  1. tão bom a sensação de fazer parte de um cartão postal as vezes. tal qual uma camponesa de chapéu de pontas viradas com um moinho de vento ao fundo.
    mas...como captar as baladas do sino no papel?
    vc conseguiu.

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  2. Talvez seja efeito dos filmes nas nossas mentes pedintes. Vemos desde sempre uma realidade tão imaginária e nos frustramos tanto com o que ela realmente é, que andamos nas ruas esperando os sinos e o crepúsculo e câmera lenta e a trilha sonora. Talvez seja isso, mas só talvez.

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