Quando eu te encontrei naquele quadradinho de casa - um bloquinho de dormir, comer e urinar - cheio de cartelas de remédio espalhadas pela casa, vazias, cheias, começadas e abandonadas. Quando eu te encontrei lá, todo não-você, todo sem saber e pior: sem querer saber. Quando isso aconteceu, eu quis te gritar a vida, as coisas, as crianças que passam de bicicleta lá embaixo e os animais e o mundo que continua incansável. Quis te sacudir e te bater, como quem esbofeteia para acordar do sonho mal dormido, como quem chama de volta do transe.
Quando eu te olhei assim eu quis virar o olhar, eu quis falar que não, que logo passa, que era besteira, que não ia ser nada. Eu quis virar o olhar por que tive medo de me ver também ali; de você fazer sentido dentro dessa coisa terrível que habitou sua alma, que arrancou todo o brilho dos seus olhos, que comeu como traça as coisinhas que você zombava nos fazendo rir; que você fazia no sábado de manhã junto com seu tênis de caminhada. Esse parasita silencioso que te arrebatou de você mesmo - e fez o seu chuveiro ficar seco com um pó de deserto, sua pia quase rachada de seca e fungos vivendo na geladeira - esse parasita que, num consultório frio e branco, chamaram de depressão.
Sem palavras...
ResponderExcluirSó abraços. Força Felipe!
eu fiquei sem saber o que dizer.
ResponderExcluirO grande vazio que nos habita revela a temerosidade de nossa alma. Fê, lhe digo que a arte cura, o afeto cura. Seja contigo, seja com alguém próximo à você... se inspire de afeto, inspire afeto, distribua e contribua com a arte, mantenham a calma e nesse vazio, busquem as respostas... elas estarão lá, mesmo que escondidas no escuro, só quem vence uma depressão sabe encontrar mais respostas que antes. Lutemos com amor, estamos juntos, conectados, unidos nessa teia da vida!
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