18/12/2012

Bitucas Beijadas


Ela, moça nova, tinha uma cara de quem já se foi – e não era "foi" de ter ido, mas de ter sido. Já não era mais nada e procurava um lar em cada olhar estranho com seus exageros sociais.

Ausentada e faltosa dela mesma, acende muitos cigarros e as bitucas já fazem um grande público ao seu redor na calçada cinza. As bitucas todas beijadas por ela e todas aos seus pés, como garotos bonitos de branco calados e surrados.

Precisou de várias paixões assim, auto-destrutivas, até que o ônibus chegasse – e chegou. Ela subiu como quem vai à forca.

Será por isso que fumam tanto? Essa gente ansiosa queima tudo rápido
demais.

03/12/2012

Poema-Varal


As suas calcinhas secando junto com as minhas cuecas
num varal com pregadores coloridos
que eu orgulhosamente preguei na parede;
nossa parede.

Morar com você ia ser uma tarde fresca sempre:
eu te ensino a cuidar das plantinhas
e você vem com seus “sintagmas verbais”.
e sua linguística.

Então a gente vai assim dividindo mundinhos
e brigando pelo controle do som
e eu vou rir quando você fizer graça assim
toda torta dançando.

Todas essas cenas que me vêm na cabeça
são fotografias de um amanhã
São convites invisíveis que eu te faço
enquanto tomo banho
cantando