15/04/2011

Mártir Pescador

Sob o sol com a velha rede remendada, o barco e de companhia os cupins. Chapéu de palha estourado na cuca e velhas marcas no rosto como se cristalizadas, talvez por lágrima ou talvez por mar; Essa diferença é muito sutil e quase inexistente para um pescador.

Desde menino crescido sozinho feito siri na beira d’água, as mãozinhas salgadas e o único acalanto vinha do sol que ardia no lombo. Vivia do mar... e o mar? O mar não vivia dele. Gigante e impassível permanecia. Foi essa sua primeira desilusão amorosa, antes da moça que usava vestido de flor e pano bonito nos cabelos.

É certo que confundia amor com dependência; com essa coisa que parece fome mal matada e sono mal dormido. Amor era isso: era bestial, primitivo e arrancava pedaços – como ele fazia com o mar, arrancando seus frutos e logo mais se sentia castigado quando, quase morto de fome, voltava com a rede vazia.

O triste pescador em cima do seu barquinho percebeu o erro fatal só muito velho, bem gasto pelo mar e já rachado pela maresia: Não havia vítima nem algoz; Era só amor e ponto.
A madeira estalava com o balanço das águas. Pela primeira vez pode perceber a diferença entre lágrima e mar; então num téc forte o coração estalou
também.


Um comentário:

  1. Gostei demais, desde a simplicidade da escrita, ao enredo em sí. Parabéns.

    ResponderExcluir