27/02/2009

Goteiras

Duas goteiras cheias de sentimento molhavam o piso branco. Estava chovendo, mas não era o telhado, nem o forro. Um frevo ou um tango tocava; que importa? Não lhe fazia diferença. Algumas doses e sentiu-se confortavelmente livre para gargalhar.
Logo as goteiras tristes viraram duas luas nebulosas, quais parecem cair do céu a todo instante. O olhar mirrado encarando o espelho não olhava nada. Estava vazio. As sobrancelhas vez ou outra se contorciam, para sentirem-se vivas e longe do tédio, fingindo expressões inexistentes naquele desafortunado rosto melancólico.
A cada passo sentia diluindo-se no chão. Bêbado e triste, poupou a cama de seu mau-cheiro, e acomodou-se num canto do quarto. Caiu num sono pesado e sonhou confusão e tristeza.
Os primeiros raios de sol penetraram o quarto, então se sentiu vivo de novo. Precisava de um novo começo. Não foi trabalhar; precisava de coisas reais. Ficaria bem. Tinha certeza.

25/02/2009

Acordar

A barba mal-feita coçando o fez acordar. Não olhou no relógio nem no espelho. Tudo estava intacto, como sempre esteve.

-O mundo é tão absurdo quanto um sonho. – Balbuciou sonolento – Trabalhamos, nos relacionamos, ficamos gripados... Comemos macarrão no domingo. Isso tudo é um grande absurdo. - E riu, ainda coçando a barba.

A barba mal-feita coçando o fez acordar. Não olhou no relógio nem no espelho. Tudo estava intacto, como sempre esteve.

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