30/12/2008

Páginas Rasgadas (Título gasto...)

Em meio à lágrimas e a risos de euforia,
rasguei essas páginas de vida!
Eu rasgo as páginas e logo as colo
pedaços unidos com cicatrizes

Rasgo também o peito cheio
de coisas docemente exageradas
Dono de palavras esfareladas
Procuro me esconder.

28/12/2008

Pêlos Céus!

Muitas vezes eu me assusto quando olho para mim e vejo algo diferente. Sério. E isso acontece muito quando eu acabo de tomar banho. E aconteceu de novo.
Eu estava lá me enxugando com a minha toalha quentinha que acabara de sair do sol e então eu me deparo com um pêlo infeliz que estava muito afastado do centro do meu peito. E quando eu ví esse infeliz por lá, logo pensei:
"Ferrou-se! Ele migrou pra lá só para levar outros comparsas com ele e povoar essa outra parte do meu jovem peito com outros pelos. Céus!"
Mas depois, quando me acalmei, eu percebi que um problema muito maior estava por trás disso tudo:
"Puta que pariu! Eu estou crescendo! Tô ficando velho! Que bosta!"
E então vem aquele sentimento melancólico no peito (literalmente) e você fica pensando que vai morrer e pior: Que seu desempenho sexual vai "acalmar" quando você ficar velho. E então vem aquele desespero dos meus hormônios adolescentes, promovendo rebeliões de pensamentos em mim. Veja só o que um mísero pêlo faz com a gente.
Acho que eu ficaria deprê mesmo se um desse migrasse para as minhas costas. Acho que eu ate precisaria de terapia. Um amigo meu que faz medicina falou que é possível que eu fique careca! Olha só que droga! Ele falou algo sobre a testosterona e etc.
E então é isso. Eu fico feliz que hoje exista depilação e "terapias" que fazem até os vovos parecerem garotões.

17/12/2008

Verdadeira Intimidade

Ao menor sinal da verdadeira intimidade, seja ela de amigo ou amante, suas ilusões irão cair, uma a uma, derrubadas por este "invasor permitido". Uma vez intimo, abre-te portas pesadas, enferrujadas e esquecidas. Ao menor sinal da verdadeira intimidade, seja ela de cão ou criança, já não és mais responsável por somente por você, mas também pelos teus intimos, pessoas de sua adoração. E vice-e-versa, se é que versa-se tais coisas.
Ao menor sinal de tal intimidade, te sentiras confuso, aflito, preocupado, ansioso, e tudo mais, com problemas que nem são seus. Problemas que você nunca imaginou ter, não tem, mas que, mesmo assim, te afetam, te sobrecarregam e te deixam tão mal quanto se atingissem sua própria carne. Te cansam como se fossem alojados em suas costas. E não há só essa batalha! O problema da intimidade vai além...
Mas veja lá, em tudo na vida, existe tal dualidade! E a intimidade não é diferente, infeliz amigo. O infortúnio foram todas, ou quase todas palavras falarem da parte trabalhosa do árduo ofício do íntimo. E que seria do homem sem o trabalho? Essas dualidades da vida não são obscuras nem luminosas. São apenas... diferentes. Adiante.
Vai frustrar-te com o outro, vai querer ter o comando, quando nada pode fazer. Vai querer conduzir, confortar e batalhar, junto. Mas não pode. A intimidade nos dá a idéia de possuirmos tais poderes. Poderes divinos e vagos.
Ao menor sinal de intimidade, verdadeira intimidade, devemos amar. Amar com intimidade verdadeira, poder também divino, mas acessível a nós, se assim desejarmos. É preciso ser prudente, paciente e corajoso. Seus desejos mais profundos irão se satisfazer quando a pessoa intima em questão, a pessoa que te preocupa e que te cativa ter pernas fortes e uma mente corajosa. Aí sim terá feito sua parte. De resto, não te culpas, e abraça-o.

09/12/2008

Canela



Lá menor em leves golpes. Vem devagar e acrescendo num tom cortante. O lá menor parece triste e misterioso. Logo alterna com sua forma sustenida, n’um vai e vem inebriante, fazendo esquecer sua forma triste e incita ao mistério e voluptuosidade.
Lá menor e mi, num ritmo quebrado. O mi, que é grave e sensual, parece acalentar o lá menor, embalando ainda mais o ritmo, como um nobre cavalheiro. O casal de notas ameniza o caos no braço do violão vermelho.
A madeira rubra, antiga e gasta, treme retumbando cada nota que os dedos abocanham nas seis cordas. Deslizam nas suas dezenove casas, também gastas pelo tempo. Se tal seqüência de notas tivesse um cheiro, este seria agridoce, como os condimentos do oriente médio.
O ritmo acelera. Palmas e sapateados cruzam-se, misturando-se com o cheiro das flores de canela e essências excêntricas, que são queimadas em lâmpadas de azeite. Os vestidos vermelhos de várias camadas rodopiam, e vez ou outra são carregados de um lado para o outro pelas mãos de quem os veste. Mãos com unhas afogueadas.
Os pés continuam batendo no assoalho de madeira com firmeza, ecoando ao longo da grande sala, marcando cada contratempo com precisão. Pés e mãos em harmonia giram e contornam formas sutis no ar, enquanto o ritmo quebra e volta à tona, rasgando os ares andaluzos. Subitamente a música pára, e os vestidos derramam-se pelo chão lentamente, conforme os corpos vão se deitando em cima das próprias pernas, em movimentos ternos.