30/09/2008

Prosa 3/4

"Teus cabelos, que um dia foram agarrados à minha pele, em meio ao trigo e ao suor, em noites confidentes, sentem saudades; gritam o seu pranto, mas não lhes ouve, e joga-os contra o vento, como se castigasse-os por tais lembranças.
Teu seio quer repousar minha cabeça, e, como uma prisão paradisíaca, nunca mais deixar-me partir para as reais e avermelhadas batalhas dos homens. Me darão um sono tranqüilo, eu aposto. Não terei que montar guarda alguma contra teus suspiros.
Teus pés; magníficos pés, que andam pelo campo, faíscam por toda à noite, em busca da lenta Valsa, onde lhe segurei mais firme que qualquer homem jamais ousou. O compasso que embalou olhos cheios de palavras, agora se sente vazio e incompleto.
Teus dedos, armados com unhas compridas, querem percorrer minhas costas, caminhando com força, celebrando seu triunfo sobre meu ser. Vestidas de vermelho, correndo até meu quadril, levemente. Impetuosas unhas invocando um inocente ataque.
Tuas costas imploram para que eu desarme-as em meio ao campo de batalha, e faça que milhares de carícias as execute de êxtase e fervor. Minha barba mal feita e cabelos desgrenhados lhe farão cócegas; Liça justa.
Tuas pernas cansadas procuram como parreiras algo para se entrelaçar em meio à noite fria e prateada. Egoístas e imponentes, como princesas em dosséis. Emaranhadas, desfrutam de lençóis de seda para seu solene repouso. Sozinhas e quietas procuram às minhas, não querendo transparecer tal desejo; Orgulhosas pernas.
Tuas mãos -mãos que colhem flores- querem conferir, alisar e apalpar toda a extensão do meu corpo, amaciar meus músculos exaustos com sua leveza singular, e apagar minhas cicatrizes com leves caricias, como se ainda me doesse, como se fossem um corte em meu íntimo."

Um comentário: