Grande poeira levantou quando o operário cortou um duto de concreto. Debruçado sobre a ponte do rio periférico, eu vou ganhando com minha pouca visão o aterro de obras.
Eu não
consigo ficar indiferente aos materiais que desenham o mundo: asfalto, cimento, o plástico e
as pedras. Quando penso nas grandes máquinas que trabalham acabo por
pensar em todos nós. É como aquele sentimento de quem fica olhando pela
janela.
Sinto a britadeira quebrando o chão e me entrego ao
tremor inevitável que não é apenas sonoro, mas faz vibrar o corpo todo, fisicamente. Quero estar assim para sempre: como se tivesse sido disparado pelo
apertar de um grande botão amarelo. Não mais pensar ou falar ou ter
razão, mas apenas sentir um rodar como um motor lubrificado em pleno arranque.
Potente, constante e cíclico como uma panela de pressão, ou como uma locomotiva que faz tchi-tchi-tchi-tchi-tchi
Vibrar então inteiro, espalhando os tremores nas vigas de concreto armado de cada prédio da cidade, perturbar a paz singela de cada tijolo, de cada muro.