Máquinas no meu caminho
abram a trilha, a rota, pros meus pés
com sua pá cheia de garras
raspem o chão de paralelepípedos
levantando fumaça e faísca
os respeito e também me emociono:
única força que para o tráfego
coisa que nem chuva forte, nem corpo caído,
nem micro-organismo pode parar
09/12/2020
02/07/2020
Faixa de Pedestre
Será que o Drummond era ansioso? Sinto meu coração ansioso tão pequeno, incapaz de dar conta do mundo-grande, incapaz de enfrentar a máquina do mundo.
Ineficaz ao enfrentar as brigas domiciliares, as disputas de território diárias nas ruas. Sempre amarelo e covarde o meu coração.
Não, eu não nasci pra conquistar nada. Essa palavra é horrível: "conquista". Eu não sou afiado como o ponteiro da bandeira que se finca na terra e nos peitos dos outros e que também me atravessa.
Me custa usar a força, o grito, o dedo levantado e o ponto final.
Eu não quero ser chamado para apontar a verdade, para embasar uma opinião, para dar certezas. Sou altamente transigível.
Todos os meus limites próprios parecem riscados à giz de professor em chão que só passa carro.
Meus limites são faixas de pedestre que nunca secam e que as crianças destroem ao passar de bicicleta - sem nem perceber.
Ineficaz ao enfrentar as brigas domiciliares, as disputas de território diárias nas ruas. Sempre amarelo e covarde o meu coração.
Não, eu não nasci pra conquistar nada. Essa palavra é horrível: "conquista". Eu não sou afiado como o ponteiro da bandeira que se finca na terra e nos peitos dos outros e que também me atravessa.
Me custa usar a força, o grito, o dedo levantado e o ponto final.
Eu não quero ser chamado para apontar a verdade, para embasar uma opinião, para dar certezas. Sou altamente transigível.
Todos os meus limites próprios parecem riscados à giz de professor em chão que só passa carro.
Meus limites são faixas de pedestre que nunca secam e que as crianças destroem ao passar de bicicleta - sem nem perceber.
28/05/2020
Fluxo
ser um fluxo de pensamento
sem fim e começo
atravessando seu corpo
corpo longitudinal, rostral, parietal
inferior, posterior
conduz minha cabeça em você?
mas só de brincadeira
só no jogo, amor-jogo
morde, mas fraquinho
Se eu quero saber? eu quero saber
cansei de ignorar as pessoas
ignorar quem são
e o que sentem as pessoas
Se tem algo que eu quero é saber quem é você
quero saber. me conta também.
coloca a mão no meu rosto
e me olha todo, me atravessa:
transversal, crânio caudal, dorso ventral
conta a história do balanço na beira da estrada?
eu também quero demorar um pouco lá
mesmo que é um lugar seu, só seu, tão seu
a gente compartilha tão bem as coisas, não é?
sem fim e começo
atravessando seu corpo
corpo longitudinal, rostral, parietal
inferior, posterior
conduz minha cabeça em você?
mas só de brincadeira
só no jogo, amor-jogo
morde, mas fraquinho
Se eu quero saber? eu quero saber
cansei de ignorar as pessoas
ignorar quem são
e o que sentem as pessoas
Se tem algo que eu quero é saber quem é você
quero saber. me conta também.
coloca a mão no meu rosto
e me olha todo, me atravessa:
transversal, crânio caudal, dorso ventral
conta a história do balanço na beira da estrada?
eu também quero demorar um pouco lá
mesmo que é um lugar seu, só seu, tão seu
a gente compartilha tão bem as coisas, não é?
17/05/2020
Cajado-espanador
as coisas todas convenientemente dispostas:
as pessoas organizadas em cima de uma mesa de madeira
objetos-pessoas como cubinhos de madeira polida
bem limpas e com as arestas dentro da normalidade geométrica
das leis cartesianas
se existe um contrário da conveniência
eu imploro:
quero toda a inconveniência dentro de um cajado
para carregá-lo e perturbar o que está definido, estabelecido,
normalizado
e cheio de pó
08/02/2020
O agora é o momento que tanto almejo
porém não é fácil distinguir
Estou no presente
ou muito além no tempo?
O tão sonhado momento
onde a mágica acontece
aquela mágica:
tem estrelinhas piscando
e barulhinho feliz repentino
que toca feito despertador
e quase assusta o bem-aventurado;
e tem casal abraçado na chuva
e um campo infinito e verde para correr
esvoaçante roupa colorida
(e cartilagens macias nas rótulas nos joelhos,
pois o correr deve ser sublime)
A felicidade é cafona.
Por vezes passo frio
sem camisa e o pé gelado
não me dou conta
pois quase sempre estive em outro lugar
em outro tempo
que não era o aqui
Enlaçados ao porvir
nós, os ansiosos
tropeçamos em projeções
inventamos futuro e passado:
o ansioso é um pretensioso
tirano do tempo
Agora declaro que
quero agora o meu agora!
não me permitirei mais
ser privado do momento
Quero estar contigo
sem pensar em qualquer rótulo que criei
e que me escravizou
Quero andar ao seu lado
seja você amigo, amor ou anônimo
ou tudo isso
e estar ali, tão ali, tão ali presente
até sentir pesar os ossos!
porém não é fácil distinguir
Estou no presente
ou muito além no tempo?
O tão sonhado momento
onde a mágica acontece
aquela mágica:
tem estrelinhas piscando
e barulhinho feliz repentino
que toca feito despertador
e quase assusta o bem-aventurado;
e tem casal abraçado na chuva
e um campo infinito e verde para correr
esvoaçante roupa colorida
(e cartilagens macias nas rótulas nos joelhos,
pois o correr deve ser sublime)
A felicidade é cafona.
Por vezes passo frio
sem camisa e o pé gelado
não me dou conta
pois quase sempre estive em outro lugar
em outro tempo
que não era o aqui
Enlaçados ao porvir
nós, os ansiosos
tropeçamos em projeções
inventamos futuro e passado:
o ansioso é um pretensioso
tirano do tempo
Agora declaro que
quero agora o meu agora!
não me permitirei mais
ser privado do momento
Quero estar contigo
sem pensar em qualquer rótulo que criei
e que me escravizou
Quero andar ao seu lado
seja você amigo, amor ou anônimo
ou tudo isso
e estar ali, tão ali, tão ali presente
até sentir pesar os ossos!
06/01/2020
acalanto
ai!, é cada tropeço em desnível de calçada
é cada placa grande
que não diz nada
cada trombada, buraco,
saco de lixo que parece cachorro
cachorro que parece criança
sombra que vira degrau
degrau que vira muro
mas já não tenho medo de escuro
ou a pressa de enxergar
nem vergonha do não-ver
hoje só vivo o que tenho
(obrigado psicóloga, ouço sua voz chamando "filipi,
se assenhore de sua vida e da sua história!")
e tenho:
1/4 de visão
meio olho que funciona
um olho e meio que vagueia
e tenho acalanto
no ventinho que penteia o cabelo
nas crianças da escola que me gritam na rua
tio, tio, tio!
em pessoas que me seriam impossíveis de encontrar
se estivesse "preso na gaiola da visão", como disse o mestre
é cada placa grande
que não diz nada
cada trombada, buraco,
saco de lixo que parece cachorro
cachorro que parece criança
sombra que vira degrau
degrau que vira muro
mas já não tenho medo de escuro
ou a pressa de enxergar
nem vergonha do não-ver
hoje só vivo o que tenho
(obrigado psicóloga, ouço sua voz chamando "filipi,
se assenhore de sua vida e da sua história!")
e tenho:
1/4 de visão
meio olho que funciona
um olho e meio que vagueia
e tenho acalanto
no ventinho que penteia o cabelo
nas crianças da escola que me gritam na rua
tio, tio, tio!
em pessoas que me seriam impossíveis de encontrar
se estivesse "preso na gaiola da visão", como disse o mestre
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