Eu só sei que os caras chegaram num sábado de sol qualquer, com muitos bons modos, mas cheios de sangue nos zóio. Eram senhores já idosos, na verdade. Vieram conversar com uma das donas da casa sobre o contrato, a venda e todas as minúcias legais. Se você está doente, sem emprego, perdeu sua mãe, não nos importa. Diziam isso com aquelas outras palavras brandas para ela, sorrindo, enquanto comiam do nosso bolo e tomavam nosso café.
Quero a grana, mesmo que seja trinta centavos - que se enriqueça o advogado, mas pouco é melhor que nada! Falou um dos herdeiros da menor parte da casa. Aquela mulher, minha mãe, não sabia entender como funciona a inflexibilidade da lei e o poder arrebatador das palavras escritas em um contrato que ela assinou sem ler - e até leu mas foi como se não, pois o discurso daqueles papéis estavam na mesma linguagem venenosa da gangue-dos-senhores-brancos-engravatados.