A brincadeira acabou. Você é como a criança que saiu debaixo da cama-esconderijo. A porta se abriu ou se fechou, tanto faz. A hora exata, cravada em segundos, chegou. Chegou, pois chamam seu nome em alto e irrefutável tom. Não há desculpa, nem passatempo. Não há sala de espera. Agora é você. Agora é isso que construiu pra ser você, que inventou pra fugir do medo e se auto afirmar nessa solidão coletiva e abismal chamada de mundo. Criatura fantástica forjada ao acaso sempre com a mão na maçaneta, com os dedos no botão, com os olhos no papel. Pronto pra saber o próprio destino - não importa o que está acontecendo, só importa que é sua hora e vez.
Você se olha no espelho sabendo de tudo. Tudo numa indevida lucidez; numa eterna prancha dos tubarões; de joelhos no chão com o teu carrasco já a prender a respiração. Esse então é você: pelado e frágil diante do espelho, sabendo da morte e do sofrimento antes da morte. Tenta ensaiar um sorriso, tenta! Sabendo das guerras, dos estupros, do câncer, das crianças que somem nos shoppings, das bombas que virão. Por fim, sabendo de si mesmo e do desenrolar da própria vida. Você fecha a torneira e olha os dentes tão brancos e então nada acontece. A hora H foi embora, o momento crucial passou desvairado como um ônibus vazio na madrugada
e você ficou, de novo.
Nesse súbito momento, eu sei de tudo, eu vejo tudo, mas tudo é tão ruim que a lucidez chega a ser indesejável. E esse corpo que sustenta o que me resta, este que eu criei calculadamente, não é forte o bastante, nunca é, escritor de megalópole. Poder ver a respiração presa de um suspiro que será dado após outro ser tirado, é quase algo entre aloe vera em queimadura, e a tentativa de pintar o máximo antes que o tempo se acabe, e então, ele acaba.
ResponderExcluirpancada!
ResponderExcluirtão particular e ao mesmo tempo veio pra mim em forma do que ja comentei no nosso grupo.
ResponderExcluiré isso aí mesmo.
Tu é foda! Felipe =)
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