22/06/2015

Porvires

medo de acordar com uma meia só no pé
medo de esquecer o guarda chuva
medo de não ter papel higiênico
medo de perder o ônibus
medo de estar tão corajoso - pela primeira vez

medo de pensar tanto e saber e ver e concluir,
mas não saber o que fazer então

medo da pedrada inevitável, do dia inevitável;
(a chamada da enfermeira para a injeção quando eu era pequeno)
medo da minha vez; do dia que sempre chega pra todos
e que todo mundo sabe o que esse dia é, pois todos já pensaram nele antes de dormir.

viver na inevitável sensação de porvir
do que vai acontecer - ou do que não vai
e assim paramos pra olhar, paralisados
e então se passam 100 anos
e tudo aconteceu,

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mas nem estávamos lá.

5 comentários:

  1. Maravilhoso ! Um texto completo, soco no estômago.

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  2. "Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo."

    Gostei de como duas verificações contraditórias fazem sentido ao mesmo tempo.

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  3. "Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo."

    Gostei de como duas verificações contraditórias fazem sentido ao mesmo tempo.

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  4. soco no estômago?
    direto, no meu. nas armadilhas que insisto em colocar no meu caminho...pra mim mesma.
    é um engodo esse medo, isca faiscante que fascina.
    tou tentando, bicho..tou tentando...

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  5. sentir medo, ao viver, é inevitável!
    (vai com medo mesmo)

    Obrigado pelo soco no estômago, também. ^

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