11/06/2010

Teto de Vinho


Ela dançava em cima da lataria de um carro azul abandonado naquele campo. Os cabelos mais ou menos presos fugiam do elástico com os pulos e giros dos braços e sorrisos abertos. Olhos virados e a sensação de que o mundo é um cisco aos seus pés! Há quanto tempo que eu já não tenho dezessete anos e duas garrafas de vinho em uma noite fria quase estrelada? Igual “aquelas de filme”, como diria ela.
Com o dedo gelado me apontou alguma estrela que não existia e exclamou “-Que linda!” numa voz mole e rouca. Falávamos muitos sobre as coisas dos céus. Entre uma e outra golada eu também olhava fascinado pro céu cinza e via constelações inteiras sem saber se estava fingindo ou não. Éramos jovens, portanto capazes de ver estrelas imaginárias feitas de vinho ou paixão; tanto faz.

-Essas luzes bonitas na grama, elas existem?
-Sim, acho. São vaga-lumes.
-E o que fazem eles aqui?
-Cantam e, hm, iluminam e dançam.
-Sabia!
-O quê?
-Teus olhos são vaga-lumes!

Que risadas bêbadas e amáveis! Que noite! Dividíamos um único cachecol, tão enlaçados estávamos. As calças jeans chiavam juntas, baixinho e ora ou outra o velho capô estalava. A lua também estava ébria e dançava transfigurada no céu. Hoje penso que os vaga-lumes são realmente luzes que vagam por aí, justamente como esse par de olhos que conheci.

3 comentários:

  1. Meu outro comentário não apareceu T_T, mas tudo bem... Eu digo de novo que adorei esse texto e o jeito livre como você escreve. Beijão cabelo de parafuso!

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  2. Meus parabéns novamente.
    Fascinante e adorável, não me canso de ler seu blog!

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  3. Que lindo, Felipe! :D
    Gostei muito \o/

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