A gaveta de camisetas era separada da seguinte forma: Mangas cortadas e mangas não-cortadas. Algumas calças gastas. Quando faz frio, pula numa jaqueta e saí, pra sentir o vento frio no couro. O bom das jaquetas é que você pode usa-las com camisas de manga cortada. Uma camisa branca, para as bobeirites.
Ainda lá, na parte de cima, vários comprovantes e atestados, recibos; que seja. Sempre há espaço para recordações nostálgicas no armário de uma pessoa que realmente vive e aprecia isso. A vida é isso: viver. E estes papeizinhos não atestam nada, comparados à tais objetos desencadeantes de memórias; verdadeiros gatilhos, ratoeiras de emoção, que ficam ali, só esperando por um olhar.
Ali, no pote com canetas, ainda permanecia uma escova de dentes, quase nova, que escovou dentes em tardes vazias. Escovou ao lado de outra escova, de outra pessoa, também sorridente, que lhe sujava a ponta do nariz com as mãos sujas de pasta, e depois um olhar e um beijo na testa, e torna ao nariz, com a mão cheia d’água, mas agora para molha-la.
Nós crescemos, e sempre deixamos algum desses objetos-prova no fundo das gavetas, em caixas em cima do armário, entre as páginas de livros, e qualquer outro lugar que possa surpreender-nos de forma quase cruel, pois nos coloca diante do próprio passado, mas tão sutil que faz congelar o olhar e o tempo, nos arrancando um leve sorriso.